O termo mesha, palavra egípcia que significava exército, descrevia em sua origem tanto forças militares quanto expedições pacíficas enviadas para extrair minerais e sua tradução mais correta talvez seja força operacional. Não dispomos de informações suficientes sobre os exércitos do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) nem do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.). Os chefes de expedições tinham posições e títulos comparáveis aos das patentes militares, tais como capitães e oficiais de marinha. Durante o Império Antigo, ao que parece, ao surgir uma situação de emergência reunia-se um grupo de homens para apoiarem as pequenas unidades locais permanentes especializadas. Os nomarcas do Primeiro Período Intermediário (c. 2134 a 2040 a.C.) foram, sem dúvida, os primeiros a se verem obrigados a formar suas próprias milícias, em função das longas disputas mantidas com seus vizinhos. Por sua vez, as administrações dos domínios religiosos e do tesouro também tinham seus batalhões de soldados próprios, nos quais apenas os núbios se incluíam como guerreiros profissionais. Tais unidades, agora já efetivas, bem organizadas e complementadas quando necessário por milícias locais, devem ter desempenhado importante papel ainda no Império Médio como guarnições das fortalezas de fronteira. Eram forças sobretudo de infantaria complementadas com gente dos barcos.
Os conflitos armados do Segundo Período Intermediário (c. 1640 a 1550 a.C.) e do princípio do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) apressaram a formação de uma hierarquia militar rigorosa em cujo comando havia um general em chefe, abaixo do qual estavam, pela ordem, os generais, os escribas e os responsáveis pelas tropas. O superintendente dos cavalos, ou seja, dos carros de guerra, também ocupava posição bastante elevada. Houve um avanço sem precedentes no desenvolvimento da estratégia, da tática, do armamento e da organização militar. Surgiram os carros de guerra e a infantaria se estruturou em companhias de cerca de 250 homens. O profissionalismo dos oficiais começou a repercutir e eles e o exército como um todo passaram a exercer importante papel na política interna. A filosofia expansionista do Egito a partir do Império Novo fez crescer ainda mais a importância dos militares na história do país. Entretanto, os jovens das camadas inferiores da população, de temperamento bastante passivo, não tinham interesse em seguir a carreira militar. Ao longo dos séculos, a qualidade do soldado de origem egípcia parece ter sido medíocre e os faraós viram-se obrigados a utilizar mercenários estrangeiros para compor os quadros dos seus exércitos. A população autóctone não admirava esse soldado e, sentindo por ele medo e até desprezo, procurava manter-se afastada de seu convívio.
Na tumba de um príncipe local de Assiut, datada da XI dinastia (c. 2040 a 1991 a.C.), os arqueólogos encontraram miniaturas em madeira representando soldados. São dois grupos, cada um com 40 guerreiros egípcios e núbios lado a lado. Estes últimos são mostrados com arcos. Eles marcham em dez fileiras de quatro homens, olhando firme em frente, levando o arco na mão esquerda e quatro flechas com pontas de sílex, na direita. A partir da XIX dinastia (c. 1307 a 1196 a.C.) as diversas unidades do exército eram formadas, em sua grande maioria, por soldados estrangeiros: núbios, hititas, líbios e de outras origens. Eles passaram a desempenhar um papel considerável, sobretudo no Período Tardio (c. 712 a 332 a.C.). Não temos informações suficientes sobre os efetivos e a divisão do exército em unidades. Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), por exemplo, conduziu um exército distribuído em quatro divisões portadoras dos nomes dos deuses Rá, Ptah, Seth e Amon.
O rei mantinha os mercenários concedendo-lhes lotes de terra de onde pudessem tirar o sustento de suas famílias. O historiador Heródoto relata que no decorrer da XXVI dinastia (c. 664 a 525 a.C.) o número de tais mercenários teria atingido 410 mil, sendo que cada um recebia cerca de 3 hectares de campos na região do Delta. Além disso, 2 mil desses homens eram escolhidos para servirem como guardas do faraó, recebendo para isso uma quantidade adicional de terras e abundantes rações diárias de pão, carne e vinho. Isso não significa que fossem todos estrangeiros, mas sim que a grande maioria tinha antepassados de origem não egípcia.
Embora as terras oferecidas aos mercenários continuassem a pertencer ao rei e ele as pudesse retomar quando quissesse como, por exemplo, quando seu titular não mais estivesse engajado no exército, na prática o que ocorria, como explica o historiador Maurice Crouzet, é que desde que o filho sucedesse ao pai como soldado, ao mesmo tempo que como detentor da posse da terra, a família conservava o seu lote e o exército substituía sem esforço um homem desaparecido, inválido ou que tivesse ultrapassado o limite da idade. Deste modo, o estrangeiro, uma vez estabelecido no Egito, aí lançava raízes. Seus descendentes egipcianizavam-se mais ou menos rapidamente, e distingui-los dos egípcios autênticos — que existiam também no exército e que se beneficiavam do mesmo regime — tornava-se impossível. Constituía-se uma casta hereditária de "guerreiros", assinalada pelos autores gregos.
Na carreira militar não era usual que o soldado de categoria mais humilde pudesse elevar-se a postos de comando. Para tanto era necessário ao jovem ser originário de uma família que já tivesse um certo prestígio social, o que lhe possibilitaria frequentar escolas preparatórias à vida da caserna. Assim, as classes abastadas da população nativa normalmente forneciam aos faraós pelo menos uma parte dos quadros do exército e da marinha e — diz Crouzet — os oficiais saíram, em número suficiente, de famílias que já estavam a serviço do rei, no exército ou na administração. Numerosíssimas inscrições funerárias, sempre elogiosas, naturalmente, relembram feitos de armas, atos de bravura e devotamento.
Sem dúvida a carreira militar, como aliás qualquer outra, apresentava o seu lado negativo. Na escola militar superiores enérgicos não vacilavam em usar o bastão para impor disciplina. Depois havia as fadigas das marchas forçadas, os acidentes nas estradas, os ferimentos ou até mesmo a morte. Em contrapartida havia recompensas de toda a espécie: honoríficas, presentes do faraó, partilha do espólio material e humano, condecorações sob a forma de colares e braceletes, promoções mais ou menos rápidas. Além disso, quando se tornava necessário abandonar a atividade militar, havia a possibilidade do ingresso nas carreiras civis ou o recebimento definitivo de excelentes domínios territoriais.