Negociações obscuras com o ex-ditador Saddam Hussein, as contradições do
governo Getúlio Vargas no combate ao nazismo, as muitas versões sobre a Guerra
do Paraguai e até segredos de alcova
Um programa nuclear clandestino, o assassinato de
um ex-presidente no regime militar, os campos de concentração brasileiros, a
sangrenta demarcação das fronteiras... As passagens nebulosas, mal conduzidas e
mal explicadas de nosso passado voltaram ao centro do debate com a polêmica da
manutenção ou não do sigilo eterno dos documentos ultrassecretos. Os registros
produzidos pelos órgãos oficiais do país estão pouco a pouco sendo revelados e
descobertos - e jogam novas luzes sobre aquilo que imaginávamos saber. Para
pesquisadores e historiadores, porém, muita coisa ainda está oculta. A
sonegação de informações oficiais vem de longe. Começou já na "certidão de
nascimento" do país - a carta de Pero Vaz de Caminha (ao que parece,
herdamos o hábito dos portugueses). "O rei de Portugal, dom Manuel 1º,
demorou um ano para comunicar a descoberta oficial do Brasil ao sogro, o rei da
Espanha", conta o jornalista e escritor Laurentino Gomes, autor de 1822.
"E a carta de Caminha, que dava detalhes do evento, ficou escondida na
Torre do Tombo, em Lisboa, até 1773."
A bomba atômica dos militares
Nossas Forças Armadas tentaram desenvolver armas nucleares, talvez com uma
mãozinha de Saddam Hussein
Em 1990, o presidente Fernando Collor jogou uma
simbólica pá de cal num poço de 320 m para testes nucleares na serra do
Cachimbo, no Pará. "A suspeita é que ele teria sido construído com
recursos do Iraque de Saddam Hussein para abrigar testes do programa iraquiano.
E os dados seriam cedidos ao Brasil", diz o jornalista Roberto Godoy,
especialista em assuntos de defesa. O poço é só um pedaço de uma série de
operações clandestinas, iniciadas no governo Ernesto Geisel, para garantir ao
Brasil a tecnologia necessária para fabricar a bomba atômica (e ogivas para
mísseis nucleares).Na prática, sobretudo a partir do início da década seguinte,
o governo manteve dois programas nucleares: o oficial, com fins pacíficos, e o
paralelo e sigiloso. Sempre houve facções do regime que defendiam que a única
maneira de o Brasil ser respeitado no mundo seria ter a bomba. O Iraque virou
uma peça curiosa nesse enredo, que sobreviveu ao fim da ditadura. Entre 1979 e
1990, o Brasil exportou toneladas de urânio (a matéria-prima do combustível das
bombas) para Saddam. O roteiro nebuloso inclui espionagem e suborno de técnicos
e autoridades estrangeiras, entre outras manobras, que até alimentaram uma CPI
sobre o tema. A Constituição de 1988 havia proibido o país de usar a tecnologia
nuclear para fins bélicos, mas o "esforço paralelo" dos militares
sobreviveu até 1990, segundo confirmou mais tarde José Carlos Santana,
ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear no governo Collor. Quando
o CNEM do B deixou de funcionar, o país estaria prestes a fazer o primeiro
teste.
"Em dezembro de 1996, a PF prendeu um
alemão que vendera conhecimentos ao Brasil depois de tentativas frustradas
junto ao Iraque", diz Tânia Malheiros, autora de Brasil: A Bomba Oculta -
O Programa Nuclear Brasileiro. Para ela, é só uma amostra de que "há muita
coisa a ser explicada". Hoje o Brasil domina o ciclo de produção do
combustível nuclear e está construindo seu primeiro submarino com propulsão
atômica. A revelação de detalhes estratégicos sobre essa tecnologia e os
bastidores espúrios do programa nuclear estariam no topo das preocupações de
quem, no governo Dilma, insiste em manter o sigilo eterno.
O assassinato de Jango
Operação Condor teria matado o ex-presidente em 1976
A Operação Condor teria arquitetado a morte do
ex-presidente João Goulart no exílio, 12 anos depois de sua deposição pelo
golpe de 1964. Mesmo passado tanto tempo e vivendo fora do país, ele era visto
como uma ameaça pelos generais: era tido como simpatizante do comunismo e
mantinha quase intacta sua popularidade - que poderia ser usada, imaginavam
eles, para mobilizar a população contra o regime.Jango tomou seu remédio diário
para o coração. Mas, ao se deitar, infartou - algo previsível para um homem sob
constante tensão (sofria ameaças de sequestro e atentados), fumante e
sobrevivente de um ataque cardíaco 7 anos antes. Mas a hipótese de assassinato
ganha força entre seus familiares.
A Operação Condor foi uma ação conjunta firmada
em 1975 entre os governos militares de Brasil, Chile, Argentina, Uruguai,
Paraguai e Bolívia. Analisando documentos secretos, o jornalista americano John
Dinges concluiu que a operação envolvia a troca de informações e perseguição a
"subversivos" nos 6 países - e mesmo na Europa e nos EUA. "Mais
de 30 mil pessoas foram torturadas e assassinadas pela operação, incluindo
líderes civis exilados sob a proteção da ONU", afirmou Dinges.Não há
dúvida de que Jango era vigiado. Fotos de seu cotidiano no exílio em Montevidéu
que estavam em poder do SNI foram entregues à família em 2006 pela então
ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele morreu na madrugada de 6 de
dezembro de 1976, depois de viajar 600 km com a mulher. Contrariando a lei, não
foi feita a autópsia. E no atestado de óbito o médico colocou
"enfermedad" como a causa da morte, termo que não existe no protocolo
médico. Trazido ao Brasil, não foi necropsiado. Em 1982, a Justiça argentina
pediu a exumação do corpo após a denúncia, feita por um conhecido de Jango, de
que ele tinha sido envenenado com sarin por dois sócios. A família não
autorizou e o caso foi arquivado por falta de provas. "Agora temos a prova
viva (do crime), que é o Neira Barreiro", afirmou João Vicente, filho de
Jango, a AVENTURAS NA HISTÓRIA em 2008. Naquele ano, Barreiro, preso no Brasil
por assalto a banco e tráfico de armas, disse a ele que vigiava seu pai 24
horas por dia (e revelou vários detalhes para provar) a mando do serviço de
inteligência uruguaio. Contou que no frasco de remédios de Jango foi colocada
uma cápsula com substâncias fatais a seu coração fraco. Disse ainda que o crime
foi ordenado pelo delegado Sérgio Fleury (famoso por sua crueldade nas sessões
de tortura), numa reunião em Montevidéu. No ano passado, a família autorizou a
exumação dos restos mortais do ex-presidente, mas o Ministério Público do Rio
Grande do Sul não seguiu a determinação. Em texto assinado por João Vicente no
site do Instituto João Goulart, ele afirma que o MP não o fez "temendo,
quem sabe, que com as novas técnicas de investigação se descubra algo
suspeito". E prossegue: "Para nós, familiares, seria um conforto que
essa diligência fosse tomada e que não pairasse mais dúvidas sobre as
circunstâncias de sua morte. (...) Nós seguiremos lutando para que a verdade
apareça". Ao mesmo tempo, Moniz Bandeira, cientista político e biógrafo de
Jango, que corroborava a teoria da conspiração até 2010, mudou de lado e
declarou que os Goulart só estão atrás de uma possível indenização. E que o
espião Barreiro não passava de um radiotécnico da polícia.
Brasil, o vilão da Guerra do Paraguai
País promoveu uma carnificina gratuita, dizem historiadores.
As versões e lendas que passaram a cercar a
Guerra do Paraguai, 141 anos depois do fim do maior conflito armado da América
do Sul, são tenebrosas: guerra bacteriológica, extermínio de crianças, degola
de prisioneiros e o incêndio criminoso de um hospital cheio de feridos. Por
mais de um século, o episódio recebeu tratamento triunfal. A historiografia
nacional destacava as batalhas vencidas pelos brasileiros e exaltou personagens
e feitos heroicos. Até que, na década de 1970, os chamados
"revisionistas" - como Julio Chiavenato, autor de Genocídio Americano
- A Guerra do Paraguai - jogaram acusações como as do início deste texto no
ventilador. Para eles, o governo brasileiro tentou (e ainda tenta) esconder seu
verdadeiro papel no conflito: o de vilão.Chiavenato diz que o duque de Caxias,
o comandante brasileiro, teria jogado cadáveres no rio Paraná para contaminar a
água. "O general Mitre (Bartolomeu Mitre, presidente argentino) está de
acordo comigo que os cadáveres de coléricos devem ser jogados nas águas do rio
Paraná para levar o contágio às populações ribeirinhas", teria escrito
Caxias ao imperador dom Pedro 2º. Na prática, era um ataque bacteriológico,
usando cadáveres de veículo para micro-organismos letais.Não que essa versão
tenha virado unanimidade. "O documento, de autoria desconhecida e
evidentemente forjado, não tem valor histórico algum. Aliás, a versão também
não tem lógica, já que o Paraná deságua no rio Paraguai e o rio não sobe -
assim, não seria possível contaminar ninguém", contesta o historiador
Francisco Doratioto, autor de Maldita Guerra.Outra "bomba" que surgiu
na onda revisionista foi o extermínio de crianças nas batalhas de Peribebuí e
Acosta Ñu, em 1869. Na primeira, cerca de 21 mil aliados brasileiros e
argentinos enfrentaram 1,8 mil paraguaios, a maior parte crianças disfarçadas
com barbas postiças para que o inimigo não percebesse a fragilidade do
exército. Os poucos adultos usaram tijolos, cacos de vidro e pedras contra
canhões. Na batalha de Acosta Ñu (Campo Grande, para os brasileiros), a tática
de disfarçar garotos de adultos também acabou em massacre. Placar de mortes: 2
mil paraguaios x 26 brasileiros.Diferentemente do que o senso comum imagina, o
Brasil estimulou a sobrevivência do Paraguai como nação independente - ao
contrário da Argentina, que gostaria de absorvê-lo. Depois que acabou a guerra,
por muito pouco Brasil e Argentina, aliados no conflito, não começaram outra.
Isso só não aconteceu porque ambos estavam esgotados. Documentos que poderiam
mostrar com mais clareza o papel do Brasil no campo de batalhas estariam
escondidos no Itamaraty, com acesso proibido aos pesquisadores.
Segredo de estrado
O apetite sexual de dom Pedro 1º nunca foi
segredo de estado. Mas que o imperador tentou esconder isso da história,
tentou. O romance entre ele e sua amante Domitila de Castro, a marquesa de
Santos, rendeu mais de 200 cartas e bilhetes escritos pelo imperador entre 1822
e 1829. O namoro começou pouco antes da Independência e gerou 5 filhos (e mais
um com a irmã de Domitila). Pedro mantinha outras 16 amantes. Esse fogo todo se
refletia no teor picante das cartas, muitas assinadas como Demonão e Fogo
Foguinho: "Forte gosto foi o de ontem à noite que nós tivemos. Ainda me
parece que estou na obra. Que prazer! Que consolação!" Pesquisadores
acreditam que dom Pedro destruiu a maioria das mensagens que recebeu dela. Deve
tê-la orientado a fazer o mesmo. Domitila não obedeceu. O historiador Alberto
Rangel (1871-1945) descobriu boa parte dessa documentação e escancarou o lado
cara de pau do imperador. Este ano, o pesquisador Paulo Rezzutti publicou um
livro (Titília e o Demonão) com 94 correspondências inéditas que encontrou no
museu Hispanic Society of America, de Nova York. "Ontem mesmo fiz amor de
matrimônio para hoje, se mecê estiver melhor e com disposição, fazer o nosso
amor por devoção", escreveu o Demonão.
Rui Barbosa "queima" a escravidão
"O Congresso Nacional felicita o Governo
Provisório por ter ordenado a eliminação nos arquivos nacionais dos vestígios
da escravatura no Brasil." Com essa mensagem, era aprovada em dezembro de
1890 a decisão do ministro da fazenda, Rui Barbosa, de queimar todos os livros
de registros dos cartórios municipais com dados relativos à compra, venda e
transferência de escravos no país. A papelada foi destruída em 13 de maio de 1891.
A hipótese mais aceita é a de que a intenção era
evitar que o Tesouro Nacional fosse obrigado a indenizar os donos de escravos
afetados pela Lei Áurea, de 1888. "Os senhores de engenho, fazendeiros e
grandes proprietários pensavam em se beneficiar com a República e com as
indenizações", acredita Humberto Fernandes Machado, da Universidade
Federal Fluminense. Para ele, uma república recém-estabelecida por um golpe
militar, com o apoio de antigos senhores de escravos, poderia ter tomado rumo
diferente (pior) se os documentos existissem. "A queima anulou essa
possibilidade."
Mas essa moeda tem outro lado. "Se tivessem
o registro de sua data de compra, os negros também poderiam reivindicar uma
recompensa por terem sido escravizados ilegalmente", acredita Marisa Saenz
Leme, da Unesp de Franca. Ela apoia seu argumento em uma lei promulgada em 7 de
novembro de 1831 que proibia o tráfico negreiro. A ordem não foi cumprida - nos
15 anos seguintes, pelo menos 300 mil africanos foram trazidos. Em tese, eles
poderiam ser beneficiados por indenizações. Evidência disso é que, em 2006, foi
encontrada uma carta da princesa Isabel ao visconde de Santa Vitória, sócio do
Banco Mauá. Nela estava descrita a intenção de indenizar os ex-escravos com
terras e instrumentos de trabalho.
O circo do Acre
De coordenadas geográficas de mentira à "troca por um cavalo": as
tramas e falcatruas na compra do estado
Nos primeiros anos da República, entrou em cena
um capítulo controverso da demarcação de nossas fronteiras: a anexação do Acre.
Na região, viviam diferentes grupos étnicos (nem brasileiros nem bolivianos).
Pouco importava, para eles, quais eram os limites de Brasil, Bolívia e Peru.
Para o governo brasileiro, a região era território boliviano.
"Euclides da Cunha foi feliz quando afirmou
que, durante anos, o rio Purus foi cartografado fantasiosamente por geógrafos e
burocratas que nunca puseram os pés na região. As absurdas coordenadas e linhas
demarcatórias que daí surgiram deram margem para incompreensões sobre o que
passaria a se chamar Questão do Acre", diz o historiador Gerson
Albuquerque, da Universidade Federal do Acre. Para ele, tratados como o de Ayacucho
(1867), que embasaram a demarcação das fronteiras entre Brasil e Bolívia, foram
assinados às escuras - pautados por coordenadas fantasiosas. Esse abandono
mudou quando se percebeu que os pneus da nascente indústria automobilística
precisavam do látex acriano como matéria-prima. Seringueiros do Norte e
Nordeste invadiram a região sem que os vizinhos notassem (ou reclamassem).
Quase 20 anos depois, Bolívia e Peru também
cresceram os olhos para a borracha. Os bolivianos tentaram então arrendar o
território para um consórcio de empresas de capital inglês e americano. E
instalaram uma base militar na região para cobrar impostos sobre a circulação
de mercadorias. Os barões da borracha, com o bolso ferido, se mobilizaram.
"A Bolívia era pequena e muito mais frágil militarmente que o Brasil, a
grande nação expansionista na região. Por isso, teve de ceder ao acordo (o Tratado de Petrópolis, de 1903,
que incorporou o Acre ao território brasileiro)", diz Albuquerque. Em
2006, o presidente da Bolívia, Evo Morales, reclamou que o país "deu o
Acre ao Brasil em troca de um cavalo". Na verdade, foi por 2 milhões de
libras, ou 400 milhões de reais hoje. Pouco para uma área 3 vezes maior que a
Suíça (152 mil km2). Mas o Brasil cedeu terras do Mato Grosso e se comprometeu
a construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré para transportar produtos
bolivianos até o oceano Atlântico. A abertura da documentação ainda sob sigilo,
para Albuquerque, poderá lançar outras luzes sobre versões românticas da
história. "Temos o direito de conhecer as tramas e as sujeiras que
marcaram a constituição das fronteiras." Um diplomata brasileiro, sob
anonimato, afirma que até pessoas de outros países reclamam dos segredos
brasileiros. "Existe muita suspeita, e a recente defesa do sigilo eterno fomenta
isso."
Os campos de concentração de Getúlio
Ditador seguiu a cartilha nazista inclusive depois de romper com Hitler:
alemães, italianos e japoneses sofreram em 31 campos espalhados pelo país
Qual dos lados envolvidos na 2ª Guerra - os
Aliados ou o Eixo - era mais caro ao presidente Getúlio Vargas? Na década de
1930, os alemães eram o segundo maior mercado consumidor de produtos
brasileiros. Policiais e militares brasileiros treinaram com a Gestapo, e o
governo entregou aos nazistas judeus alemães que moravam no Brasil. Em abril de
1942, uma passeata reuniu cerca de 2 mil nazistas uniformizados no centro de
Florianópolis.
Pesa ainda a favor de seu possível pendor para o
lado dos alemães e italianos a revelação, no fim dos anos 1980, do conteúdo das
Circulares Secretas. Nelas, Vargas orientava diplomatas brasileiros na Europa a
não conceder vistos de entrada para o Brasil a judeus e outras minorias
"indesejadas". Segundo a historiadora Priscila Perazzo, a professora
e pesquisadora Tucci Carneiro conseguiu burlar a vigilância nos arquivos do
Itamaraty e fez cópias das Circulares, consideradas documentos secretos e,
portanto, proibidas aos olhos dos cidadãos comuns. No fim dos anos 1990, novos
documentos vieram a público.
"Vargas era um homem dos tempos do
fascismo. Na década de 1930, essa era a ideologia dominante em muitos lugares.
O Brasil não estava fora disso", diz Priscila. Ela avalia que o país
acabou entrando na guerra ao lado dos aliados graças a um alinhamento
comercial, político, cultural e diplomático com os EUA que vinha de anos - não
foi um ato intempestivo para vingar o bombardeio de navios na costa brasileira
por submarinos alemães. Eles queriam nos dar um susto para frear essa aproximação
com os americanos. Nem foi uma retribuição interesseira pelo (muito) dinheiro
americano investido na Companhia Siderúrgica Nacional - a versão mais popular
para a decisão de Getúlio Vargas.
Em 1942, Getúlio rompeu com Hitler. Mas não com
as práticas fascistas. A diferença é que agora elas se voltavam contra os
alemães. É cada vez maior o volume de descobertas sobre os campos de
concentração brasileiros e sobre os maus-tratos que civis japoneses, italianos
e principalmente alemães sofreram no Brasil. Se não eram locais de tortura
sistemática e extermínio em massa, como na Alemanha, também estavam longe de
ser colônias de férias.Até o fim da guerra, o Ministério da Justiça manteve 31
campos de concentração em lugares como Pindamonhangaba e Guaratinguetá (SP),
Joinville (SC) e Rio de Janeiro. Para lá, eram mandados os "inimigos"
que chegassem ao país durante o conflito ou que fossem suspeitos de espionagem.
Não podiam ler livros em seu idioma, eram submetidos a trabalhos forçados na
lavoura e muitas vezes dependiam de ajuda externa para não passar fome. Alguns,
acusados de serem nazistas, só podiam receber visitas no dia de Natal - seus
descendentes suspeitam que tenham sido torturados. Cerca de 5 mil pessoas foram
confinadas nesses lugares. Mesmo assim, os nazistas conseguiram montar uma
importante rede de espionagem no Brasil - o que era considerado um forte
indício de que, se conquistasse a Europa, Hitler voltaria seus olhos para cá.