sexta-feira, 11 de junho de 2010

Spartacus, o homem que desafiou Roma




Um exército dos mais improváveis virou de pernas para o ar o coração do Império Romano, cerca de 70 anos antes do nascimento de Cristo. Embora fosse inteiramente formada por escravos, a imensa maioria deles sem nenhuma experiência militar, essa força rebelde chegou a contar com 90 mil soldados, deu um trabalho imenso aos principais comandantes de Roma e chegou perto de engendrar o colapso político e econômico da Itália. À frente dos revoltosos estava um ex-gladiador, um gênio militar nato, apesar da origem aparentemente humilde. Seu nome era Spartacus.Mais de 2 mil anos depois, os detalhes da vida e personalidade desse guerreiro foram quase totalmente engolidos pela lenda. Para os antigos historiadores gregos e romanos, ele não passava de um bandido, enquanto teóricos socialistas e revolucionários de todos os tipos o transformaram num herói quase sobre-humano. Calúnias ou idealizações à parte, o fato é que a história de Spartacus e seu exército mostram à perfeição como a enxurrada de escravos que havia inundado o Império Romano criou um desequilíbrio social de proporções bíblicas. Sem saber, os romanos tinham plantado a semente de seu próprio pesadelo, embora, no fim das contas, tenham conseguido acabar com ela.

Mão-de-obra grátis

A revolta de Spartacus só se tornou possível porque Roma, nos dois séculos anteriores ao nascimento do guerreiro, havia se tornado a senhora (quase) absoluta da bacia do Mediterrâneo. Numa série de conquistas, envolvendo basicamente o império de Cartago e as regiões dominadas por macedônios e gregos, Roma incorporou vastos territórios, muitos deles ricos em solos férteis e recursos agrícolas. Além disso, havia um bônus: no mundo antigo, os derrotados nas guerras tradicionalmente se tornavam escravos.Depois de vencer meio mundo em batalha, Roma deixou de ser uma civilização formada basicamente por homens livres e pequenos proprietários de terra para se tornar a dona de uma multidão de escravos. Algumas estimativas modernas sugerem que, na época, havia um escravo para cada três pessoas livres. O problema, porém, não era só esse desequilíbrio demográfico: a mão-de-obra servil favoreceu os grandes proprietários de terra, que passaram a adquirir as pequenas propriedades dos camponeses livres por meios legais ou ilegais. Assim, a zona rural da Itália estava lotada de “sem-terra” e pequenos agricultores empobrecidos e encurralados – um fator que acabaria favorecendo Spartacus e seus comandados. Nas três ou quatro décadas que precederam a revolta do gladiador, a situação explosiva criou outros levantes no campo italiano, em especial na recém-conquistada Sicília.Embora a principal vantagem econômica de incorporar tantos escravos ao império fosse seu emprego na agricultura, havia um contingente, digamos, diferenciado de cativos. Alguns se tornavam servidores domésticos ou, no caso de certas mulheres, literalmente escravas sexuais de seus amos. Mas entre os mais apreciados pelos romanos estavam os escravos destinados às lutas de gladiadores, uma das formas mais populares de entretenimento público no império. As lutas, ou ludi (“jogos”, em latim), como eram mais conhecidas na época, quase sempre comemoravam grandes triunfos militares. Os que tomavam parte dos combates nem sempre recebiam treinamento especial. No entanto, lutadores com potencial para conquistar as multidões eram muito procurados e logo eram incorporados a academias especiais, onde eram treinados e recebiam até certa dose de regalias.Foi justamente num estabelecimento desses, mantido por um sujeito chamado Lentulus Batiatus, em Cápua, sul da Itália, que Spartacus e seus companheiros originais viviam. Segundo o historiador grego Plutarco, que escreveu seu relato no século 2 d.C., “a maioria deles era de origem gaulesa ou trácia. Esses homens não haviam feito nada de errado, mas, simplesmente por causa da crueldade de seu amo, eram mantidos em confinamento até que chegasse a hora de entrarem em combate”. (A referência a “não fazer nada de errado” tem a ver com o fato de que criminosos condenados às vezes também eram mandados para a arena.) Como sempre, fica óbvio que os historiadores do mundo antigo não faziam muito bem, sua lição de casa: as designações “gauleses” (ou seja, nativos da Gália, na atual França) e “trácios” (originários da Trácia, região que corresponde a partes da Grécia e Bulgária atuais) podem não indicar a origem geográfica, mas o tipo de “modalidade” gladiatorial que os homens de Batiatus praticavam.Seja como for, a maioria dos autores greco-romanos diz que Spartacus era um nativo da Trácia. Para Apiano, escritor contemporâneo de Plutarco e originário de Alexandria, no Egito, ele teria lutado contra os romanos e feito prisioneiro – os trácios eram famosos por seu espírito de luta e, em certo sentido, até selvageria. Plutarco acrescenta, já criando uma aura mítica em torno do gladiador: “Dizem que, quando o levaram a Roma para ser vendido, uma serpente foi vista enrolando-se em torno da cabeça dele enquanto dormia. Sua mulher, que pertencia à mesmo tribo e era uma profetisa, submetida ao êxtase do deus Dioniso, declarou que esse sinal significava que ele teria um poder grande e terrível, o qual, no final, iria levá-lo ao infortúnio”. A história tem toda a cara de ser uma invenção de Plutarco, já que na tradição grega os trácios é que teriam levado o culto de Dioniso para o resto do Mediterrâneo.

Quebrando tudo

Verdade ou mentira, o fato é que Spartacus tinha pelo menos uma virtude: a iniciativa. No ano 73 a.C., ele se tornou o cabeça de uma fuga envolvendo 78 escravos, que se armaram com facas de cozinha e qualquer outro instrumento cortante à vista e deram o fora da tal “academia”. Segundo o mesmo Plutarco, o grupo deu a sorte de cruzar com um carregamento de armas para gladiadores que se dirigia para outra cidade e capturá-lo, o que aumentou suas chances de resistir à eventualidade de um ataque.Os gladiadores, que tinham como líderes, além de Spartacus, dois sujeitos conhecidos como Crixus e Oenomaus (supostamente gauleses, embora a classificação também seja duvidosa), se refugiaram no cume do vulcão Vesúvio. Puseram-se a atacar e pilhar as propriedades rurais vizinhas, atraindo mais e mais escravos fugitivos para seu lado. Mas não só cativos: pastores e camponeses pobres da região também começaram a se unir em massa ao chefe gladiador.As autoridades romanas demoraram para se dar conta da gravidade da situação. Basta dizer que sua primeira tentativa de acabar com a rebelião foi mandar contra Spartacus uma força de 3 mil homens que tinham acabado de entrar para o exército e não tinham treinamento algum. Seu líder, Caio Cláudio Glaber, se limitou a montar seu acampamento bloqueando a trilha que levava para fora do Vesúvio, achando que conseguiria fazer os gladiadores se render pela fome. Segundo relatos da época, porém, o vulcão tinha seu topo coberto por videiras selvagens, que Spartacus e seus companheiros usaram para tecer cordas, com as quais desceram pelo outro lado da montanha. Atacaram Glaber por trás e aniquilaram seu exército de novatos.
Depois dessa primeira grande vitória do gladiador, muitos de seus seguidores decidiram marchar para o norte com a intenção de deixar a Itália e voltar para seus países de origem. Enquanto isso, o governo romano resolveu agir e mandou contra Spartacus duas legiões – cerca de 12 mil homens – comandadas pelos dois cônsules, os chefes de governo da república. Parte do exército de escravos, liderado por Crixus, se separou de Spartacus e acabou dizimada, mas o líder rebelde conseguiu derrotar ambas as legiões.No fim, os revoltosos (com 90 mil pessoas em seu grupo) chegaram aos Alpes. Mas parte dos homens queria continuar a viver de pilhagem, o que os levou a voltar a Itália. O governo de Roma deu então o comando de dez legiões a Crasso e convocou o herói de guerra Pompeu. Os dois encurralaram Spartacus no sul da Itália. O gladiador e seus homens ainda venceram batalhas. Durante uma delas, o gladiador atacou Crasso e morreu em combate com milhares de seus homens. Outros 6 mil escravos foram crucificados na estrada que ia de Roma a Cápua – a Via Ápia.




HISTÓRIA DAS COPAS - Estatísticas e curiosidades da Copa do Mundo

O primeiro torneio foi disputado em 1930 no Uruguai. Os anfitriões foram os primeiros campeões mundiais. O Brasil ganhou as Copas de 1958 na Suécia, 1962 no Chile, 1970 no México, 1994 nos Estados Unidos e 2002 na Coreia do Sul e Japão. Conheça mais sobre as curiosidades das Copas do Mundo.

Recordes da Copa do Mundo - Gols:
• Primeiro Gol: Lucien Laurent (França) ao 19 minutos do primeiro tempo do jogo França 4 x 1 México em 13 de Julho de 1930.
• Gol mais rápido: 11 segundos. Hakan Sukur (Turquia) no jogo Coreia do Sul 2 x 3 Turquia (disputa do terceiro lugar em 2002)
• Gol mais rápido de um reserva: 16 segundos. Ebbe Sand (Dinamarca) no jogo Nigéria 1 x 4 Dinamarca em 28 de junho de 1998 - oitavas-de-final da Copa de 1998)
• Jogo com mais gols: 12 - Áustria 7 x 5 Suíça (1954)
• Maiores goleadas: Hungria 10 x 1 El Salvador (1982), Hungria 9 x 0 Coreia do Sul (1954), Iugoslávia 9 x 0 Zaire (1974)
• Maior goleada nas eliminatórias: Austrália 31 x 0 Samoa Americana (2001)
• Lista dos Gols mais rápidos: Hakan Sukur (Turquia) - 11 segundos (Turquia x Coreia do Sul - 2002) | Vaclav Masek (Tchecoslováquia) - 15 segundos (Tchecoslováquia x México - 1962) | Park Soong-Jin (Coreia do Norte) - 23 segundos (Coreia do Norte x Portugal - 1966) | Ernst Lehner (Alemanha) - 24 segundos (Alemanha x Áustria - 1934) | Bryan Robson (Inglaterra) - 27 segundos (Inglaterra x França - 1982) | Bernard Lacombe (França) - 37 segundos (França x Itália - 1978)

Recordes da Copa do Mundo - Jogadores:
• Jogador com mais Copas: cinco Copas - Antonio Carbajal - México (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966) e Lothar Matthäus - Alemanha Ocidental (1982, 1986 e 1990) e Alemanha (1994 e 1998).
• Jogador com mais jogos: Lothar Matthäus - Alemanha Ocidental e Alemanha - 25 jogos.
• Jogador com mais minutos jogados: Paolo Maldini - Italy - 2.220 minutos (1990, 1994, 1998 e 2002).
• Jogador com mais finais: Cafu - 3 finais (1994, 1998 e 2002).
• Jogador mais jovem numa final de Copa do Mundo: Pelé - Brasil - 17 anos e 249 dias (1958).
• Jogador mais jovem em Copas: Norman Whiteside - Irlanda do Norte - 17 anos e 42 dias (1982).
• Jogador mais jovem nas Eliminatórias: Souleymane Mamam (Togo) - 13 anos e 310 dias - Togo x Zâmbia - 6 de maio de 2001.
• Jogador mais idoso nuna final de Copa do Mundo: Dino Zoff (Itália), 40 anos e 133 dias (1982).
• Jogador mais idoso em Copas: Roger Milla - Camarões - 43 anos e 39 dias (1994).
• Jogador mais idoso nas Eliminatórias: MacDonald Taylor - Ilhas Virgens Americanas - 46 anos e 180 dias - Ilhas Virgens Americanas x São Kitts e Nevis - 18 de fevereiro de 2004.
• Maior diferança de idades numa final de Copa do Mundo: 22 anos e 5 dias entre Dino Zoff (40 anos) e Giuseppe Bergomi (18 anos) da Itália em 1982.
• Maior diferança de idades em Copas: 24 anos e 3 dias entre Roger Milla (42 anos) e Rigobert Song (17 anos) do Camarões em 1994.

Recordes da Copa do Mundo - Artilheiros:
• Jogador com mais gols em Copas: Ronaldo - Brasil - 15 gols (1998, 2002 e 2006).
• Jogador com mais gols numa única Copa: Just Fontaine - França - 13 gols (1958).
• Jogador com mais gols num único jogo de Copas: Oleg Salenko - Rússia - 5 gols no jogo Rússia 6 x 1 Camarões (1994).
• Jogador mais jovem a marcar gol em Copas: Pelé - Brasil - 17 anos e 239 dias no jogo Brasil 1 x 0 Gales (1958)
• Jogador mais idoso a marcar gol em Copas: Roger Milla - Camarões - 42 anos e 39 dias no jogo Rússia 6 x 1 Camarões (1994).


Recordes da Copa do Mundo - Público:
• Maior público em Copas do Mundo: 174.000 no jogo Uruguai 2 x 1 Brasil em 16 de julho de 1950 - Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro.
• Maior público em Eliminatórias: 162.764 no jogo Brasil x Colômbia em 9 de março de 1977 - Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro.



Recordes da Copa do Mundo - Cartões:
• Cartão amarelo mais rápido: Sergei Gorlukovich (Rússia) no jogo Suécia x Rússia (1994) e Giampiero Marini (Itália) no jogo Itália x Polônia (1982) - 1 minuto.
• Cartão vermelho mais rápido: José Batista (Uruguai) no jogo Escócia x Uruguai (1986).

Países sede da Copa do Mundo de futebol (1930-2014)
2 vezes
Brasil - 1950 e 2014
Alemanha - 1974 e 2006
França - 1938 e 1998
Itália - 1934 e 1990
México - 1970 e 1986

1 vez
Uruguai - 1930
Suíça - 1954
Suécia - 1958
Chile - 1962
Inglaterra - 1966
Argentina - 1978
Espanha - 1982
Estados Unidos - 1994
Coreia do Sul - 2002*
Japão - 2002*
África do Sul - 2010

* Sede dividida entre os dois países.

Continentes sede da Copa do Mundo de futebol (1930-2014)
10 vezes
Europa - 1934, 1938, 1954, 1958, 1966, 1974, 1982, 1990, 1998 e 2006

5 vezes
América do Sul - 1930, 1950, 1962, 1978 e 2014

3 vezes
América do Norte - 1970, 1986 e 1994

1 vez
Ásia - 2002
África - 2010

Guerra e futebol


Os esportes são parte importante da vida cotidiana na sociedade moderna.  Mobilizando milhões por todo mundo – praticando, assistindo, trabalhando, torcendo e, principalmente, consumindo –, o esporte se faz presente em diversas esferas da vida social. Dentro deste quadro de presença dos esportes na sociedade moderna, é indubitável que o futebol ocupa uma posição de destaque.  Nenhuma outra prática da cultura popular envolve a tantos e desperta tamanho interesse e paixão. 

Tal é a força de identificação nacional do futebol, que este esporte já foi até mesmo considerado o estopim de uma guerra entre El Salvador e Honduras, conhecida como a Guerra do Futebol. Na realidade, entre as verdadeiras causas da guerra está uma antiga disputa em relação à imigração de salvadorenhos para Honduras, a posição privilegiada de El Salvador no Mercado Comum Centro Americano (MCCA) e principalmente por uma reforma agrária hondurenha no início de 1969, que serviria de pretexto para a expulsão de salvadorenhos das terras do país e visava redistribuir suas terras a cidadãos hondurenhos.
   
Em Junho de 1969, na mesma época em que o numero de salvadorenhos fugidos de Honduras aumentava, El Salvador e Honduras disputaram uma vaga nas eliminatórias para a Copa do mundo do México, em 1970. Os meios de comunicação de massa de cada país aumentavam as já existentes tensões, encorajando o ódio entre os cidadãos dos países vizinhos. Em 6 de junho de 1969, a equipe de El Salvador vai a Tegucigalpa, capital hondurenha, para a primeira das duas partidas agendadas entre as seleções. Sofrendo uma enorme pressão da torcida local desde a noite anterior ao jogo, os salvadorenhos não conseguiram segurar o empate e acabaram cedendo a vitória à seleção de Honduras nos últimos minutos do jogo. Honduras 1 a 0.
   
A indignação da população em El Salvador com o resultado da partida – e principalmente com o tratamento dispensado a seus atletas – foi enorme. Gilberto Agostino (2002) cita o caso da adolescente Amélia Bolamos que “revoltada com o tratamento dispensado à sua seleção, [...] matou-se com o revólver do pai logo após o jogo” (p. 192). E logo depois fala de seu funeral, que “marcado por rompantes de nacionalismo e ódio, [...] foi televisionado, sendo acompanhado por um cortejo militar, tornando ainda mais tensa a expectativa da partida de volta” (p. 192).
   
Com tanta tensão envolvendo o confronto de volta em São Salvador, não é de se estranhar que o embate em campo tenha se desdobrado para as ruas da capital. A torcida salvadorenha recebeu os rivais com ainda mais ódio do que sua equipe havia recebido em Honduras, tanto que os visitantes tiveram que se dirigir ao estádio em um veículo blindado (Agostinho, 2002, p. 192). Momentos antes da partida, uma bandeira de Honduras foi queimada e seu hino desrespeitado. Após a vitória por 3 a 0 da seleção local – que levaria a um novo confronto em campo neutro –, a violência tomou conta das ruas. Dezenas de torcedores hondurenhos foram agredidos e até mesmo mortos.

Neste mesmo período, a milícia paramilitar hondurenha “Mancha Brava” foi acusada de cometer atrocidades contra salvadorenhos, o que levou ao aumento do número de emigrantes a retornar à El Salvador. Assim, em 25 de junho, dois dias antes da partida de desempate entre os dois escretes, o governo de El Salvador acusou os hondurenhos de genocídio na ONU (Sack e Suster, 2000, p. 306; Agostino, 2002, p. 193). Os dois países fecharam as fronteiras e mobilizaram as suas tropas, enquanto as duas seleções se encontravam no estádio Asteca, na cidade do México, para o jogo de desempate. Após empate de 2 a 2 no tempo regulamentar, o time de El Salvador garantiu sua vaga na Copa do Mundo com um gol na prorrogação. El Salvador havia vencido o primeiro embate.

Em 14 de julho o exército de El Salvador invadiu Honduras, iniciando uma guerra que durou cinco dias. A Organização dos Estados Americanos (OEA) negociou o cessar fogo que entrou em vigor em 20 de julho, e levou as tropas salvadorenhas a abandonar o território ocupado ainda no início de Agosto. Apesar de curta, a guerra deixou aproximadamente dois mil mortos, a maioria composta por civis. No ano seguinte El Salvador disputou a Copa do Mundo, no México, e não passou da primeira etapa, tendo disputado três partidas, sofrendo nove gols e não marcando nenhum.

É de comum entendimento que o futebol não foi o elemento causador da guerra entre Honduras e El Salvador. No entanto, pode-se inquirir quanto ao papel desempenhado pelo esporte na exarcebação das relações entre os dois países. Incitadas pela mídia através dos meios de comunicação de massa, as tensões que já projetavam as duas nações em direção ao conflito foram inflamadas pela idolatria ao esporte. Neste caso, pode-se entender melhor o papel desempenhado pelo futebol através de seu caráter simbólico. Como notou Eric Hobsbawn (2004),
o esporte internacional tornou-se [...] uma expressão de luta nacional, com esportistas representando seus Estados ou nações, expressões fundamentais de suas comunidades imaginadas. [...] A imaginária comunidade de milhões parece mais real na forma de um time de onze pessoas com um nome. (p. 171).

A força do futebol como um fator de identificação de um indivíduo com sua pátria pode ser vista com facilidade em grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo de futebol masculino da FIFA. A cada quatro anos, o país anfitrião do evento – um dos maiores eventos internacionais da atualidade, ao lado dos Jogos Olímpicos – recebe milhares de pessoas de diversas partes do mundo. As ruas tornam-se coloridas com torcedores vestindo as cores de seu país, agitando suas bandeiras e cantando hinos e canções. Tal festival de nacionalismos é único. Nem mesmo os jogos olímpicos causam tamanha mobilização e despertam uma paixão tão grande entre o indivíduo e seu país. Mais do que qualquer outro esporte, o futebol carrega consigo grande capital simbólico de representação da nação.
É justamente este caráter simbólico do futebol que permite que este esporte desperte tamanha comoção entre movimentos nacionalistas, separatistas ou não, principalmente na Europa. Estes movimentos regionais que buscam a autonomia política costumam ver no esporte – e em especial no futebol – um meio de legitimação de suas aspirações nacionais. 

O assassinato de Júlio César


Três escravos se esgueiraram para dentro do Senado vazio e correram em direção ao corpo ensanguentado, caído perto da estátua de Pompeu. Mais tarde, os ferimentos seriam contados: 23 golpes de adaga. Os assassinos de Caio Júlio César não estavam mais ali. Planejaram transformar a morte num grande ato de propaganda política, mas não contavam com o medo e a revolta do povo comum de Roma, quase todo formado por adeptos do ditador. Os responsáveis pelo atentado, portanto, tiveram de se esconder, entrincheirados na colina do Capitólio. Matar César tinha sido ridiculamente fácil; assassinar o que ele significava para Roma era bem mais complicado. A morte do homem mais poderoso do Império Romano teve pouco a ver com as cenas criadas por poetas como William Shakespeare, mas tem todos os elementos de uma grande tragédia, com cenas de intriga, maquiavelismo, traição e, a julgar pelo que dizem os escritores da Antiguidade, até avisos proféticos que foram ignorados. O famigerado Bruto pode não ter sido filho de César, como reza a lenda, mas ele e seus comparsas tinham em comum a decisão de eliminar o homem que tinha sido seu benfeitor. E os efeitos colaterais do plano foram ainda piores: anos de guerra civil, um império que quase se esfacelou e o fim das ambições políticas para a classe representada pelos assassinos. Se a personalidade e os instintos políticos de César fossem ligeiramente diferentes, ele jamais teria tombado no Senado. Afinal, a tradição das longas guerras civis que tinham assolado Roma ao longo dos séculos 2 a.C. e 1 a.C. era clara: se quiser governar tranquilo, não deixe seus inimigos vivos. Essa foi a regra durante as décadas de conflito entre Optimates, a facção que defendia a supremacia dos aristocratas romanos, e Populares, os quais, como o nome diz, queriam fazer concessões ao povo romano (embora seus líderes fossem homens da nobreza). César era um expoente dos Populares, o que levou o aristocrático Senado a tentar eliminá-lo logo depois que ele retornou da Gália (atual França), depois de oito anos de batalhas, como general vitorioso no ano 49 a.C. Não deu muito certo, para dizer o mínimo. As forças senatoriais, lideradas por Pompeu Magno, ex-aliado de César, foram esmagadas em batalhas na Espanha e na Grécia. Com as legiões de todo o Império sob seu comando, César podia fazer o que quisesse, mas preferiu deixar de lado as guerras civis e perdoar a todos que se rendessem sem luta. "A chamada clementia [ancestral de ‘clemência’ em português] se tornou a marca política de César, e uma grande arma de propaganda", afirma o historiador Pedro Paulo Funari, da Unicamp. Em muitos casos, a clementia de César envolvia até a promoção de antigos inimigos. Dois dos mais mimados pelo novo senhor de Roma foram os líderes da conspiração que acabaria por matá-lo: Caio Cássio Longino e Marcos Júnio Bruto, sendo que ambos haviam recebido cargos e honrarias.

Oficialmente, Roma era uma república, mas na prática o poder absoluto estava nas mãos de César. Em épocas de crise, Roma tinha sido governada pelos chamados ditadores, que ganhavam poderes amplos durante um período de no máximo seis meses; em 45 a.C., o Senado deu ao general o título de senador vitalício, um ano depois de conferir o cargo a ele por dez anos - dois fenômenos sem precedentes na história republicana. Com essas manobras, sem falar de outras honras dadas a ele pelo Senado, como o título de Pater Patriae (Pai da Pátria), parecia que César tinha amansado de vez os Optimates e trazido os antigos inimigos para o seu lado. Mas a situação real era bem mais complicada.

O ovo da serpente

A propaganda política dos conspiradores tentou pintar o atentado contra César não como homicídio, mas como tiranicídio - um ato destinado a restaurar as "antigas liberdades" da Roma republicana destronando um déspota. Outros historiadores, como o americano Michael Parenti, em seu livro O Assassinato de Júlio César, argumentam que a decisão de eliminar o general foi só mais um round na velha briga entre Optimates e Populares. Afinal, César tomou medidas que desagradaram a antiga aristocracia, como a distribuição de terras para veteranos de guerra e a concessão de cidadania romana a povos das províncias do Império. Ele ainda aumentou o número de membros do Senado de 600 para 900, incluindo até alguns moradores da Gália na conta, o que certamente ameaçava a supremacia dos nobres romanos. No entanto, para Isabelle Pafford, doutora em História Antiga e Arqueologia do Mediterrâneo pela Universidade da Califórnia em Berkeley, a motivação dos conspirados pode ter sido bem mais simples. "Creio que as razões da conspiração eram mais pessoais que políticas, porque os responsáveis nem chegaram a ter um plano sobre o que fazer depois. Eles estavam pensando na sua própria carreira, não na ‘república’ ou na estabilidade política dela", diz Isabelle. Trocando em miúdos: Bruto, Cássio e companhia perceberam que estavam destinados a ser, no máximo, joguetes bem pagos de César - e não gostaram nem um pouco da ideia.

Segundo o historiador italiano Luciano Canfora, pesquisador da Universidade de Bari e autor de Júlio César - O Ditador Democrático, a ideia de eliminar o ditador já estava circulando desde 45 a.C. - no início entre antigos oficiais do próprio César, descontentes com o fato de não terem sido promovidos como desejavam. Membro do círculo de César havia tempo, apesar do seu passado entre os Optimates, Cássio conseguiu se aproximar dessa facção descontente e começou a articular um plano que, no fim das contas, agregaria cerca de 60 senadores, todos membros da velha elite. "Uma estratégia que examinaram foi aguardar as eleições consulares, durante as quais César ficaria em pé na ponte de madeira usada pelos eleitores a caminho da votação", escreve Michael Parenti. "Alguns conspiradores o empurrariam sobre o parapeito, enquanto outros estariam esperando embaixo, com as adagas desembainhadas." O plano não foi adiante por ser considerado muito arriscado, e os conspiradores decidiram que o melhor caminho era atacar durante uma cerimônia mais reservada. Antes disso, porém, Cássio queria conseguir o apoio de uma figura considerada chave: seu cunhado, Marcos Bruto. Eles andavam brigados - numa crise de ciumeira, o primeiro tentou impedir que o segundo assumisse um cargo cobiçado pouco tempo antes -, "mas Cássio sabia exatamente como convencer Bruto a agir", diz Luciano Canfora. Acontece que um dos ancestrais do senador, Lúcio Júnio Bruto, era famoso nas lendas romanas por ter expulsado da cidade seu último rei, Tarquínio, em 509 a.C.

O significado simbólico era óbvio: o descendente do homem que acabou com a monarquia em Roma estava "destinado" a eliminar o "tirano" e "rei ilegítimo" Júlio César. Em segredo, Cássio espalhou grafites e panfletos pela cidade, com frases como "Bruto, estás dormindo?" ou "Tu não és realmente Bruto", na tentativa de mexer com os brios do cunhado e envolvê-lo nessa mística. "Dos outros pretores [cargo ocupado por Bruto] esperam-se privilégios, espetáculos, mas de ti a abolição da tirania", disse Cássio, segundo o historiador grego Plutarco. E Bruto mordeu a isca.

Embora tivesse lutado ao lado de Pompeu e contra César, Bruto foi perdoado e recebeu do vencedor o governo da Gália Cisalpina (atual norte da Itália) e uma importante posição entre os sacerdotes de Roma. A generosidade exuberante do ditador talvez se deva a uma mãozinha de Servília, mãe de Bruto, amante de César e, segundo alguns escritores antigos, grande amor da vida do general. Mas daí a propor que Bruto era, na verdade, o filho bastardo de César vai uma distância considerável. "Isso é improvável, de acordo com a maioria dos especialistas, por causa da data de nascimento de Bruto", diz Isabelle. Quando seu futuro assassino veio ao mundo, César tinha apenas 15 anos. "A relação entre os dois era próxima, mas nada anormal dentro da sociedade romana", afirma ela.

Sinais e sangue

A data marcada para o ataque dos conspiradores era a dos Idos de Março de 44 a.C. (título dado ao dia 15 desse mês). O combinado era aproveitar a presença de César no Senado para a cartada decisiva. Segundo os autores que abordaram o caso na Antiguidade, não faltaram avisos e sinais dos deuses para o ditador. Primeiro foi um jantar na casa de um amigo na noite anterior ao atentado. Após a comida, a conversa acabou se voltando para qual seria a melhor maneira de morrer ("inesperada e rápida", teria dito César). Depois foi o pesadelo de Calpúrnia, mulher do general, que sonhou que o marido era assassinado em seus braços e implorou para que ele não fosse ao Senado. César também sonhou que voava e apertava a mão do deus Júpiter. César quase cedeu a Calpúrnia, mas um dos traidores, Décimo Bruto (parente distante do outro Bruto), conseguiu convencer o ditador a ir até o Senado mesmo assim. De acordo com Plutarco, o erudito grego Artemidoro de Cnido, que frequentava a casa de Bruto, teria tentado alertar César da conspiração por meio de um bilhete, já bem perto do Senado, mas César deixou para ler a mensagem depois da audiência. Os historiadores antigos concordam a respeito dos detalhes essenciais do ataque. Os assassinos esperaram que César se aproximasse de sua cadeira e o rodearam, supostamente para apoiar uma petição feita por Tílio Cimbro, que queria trazer seu irmão de volta do exílio. César pediu que ele esperasse um pouco e Cimbro puxou a barra da toga do ditador - o sinal para o ataque. César teria dito "Ora, isso é uma violência", enquanto outro senador, Casca, dava o primeiro golpe de adaga. César reagiu pela primeira e única vez, gritando "Casca, seu canalha, o que está fazendo?" e acertando o atacante com um pedaço de metal pontudo, usado para escrever. A essa altura os golpes se multiplicavam. De acordo com o historiador romano Suetônio, "quando, porém, percebeu que de todos os lados lhe vinham em cima com punhais em riste, envolveu a cabeça com a toga e com a mão esquerda puxou a extremidade dela até os pés para tombar decorosamente [sem mostrar os genitais]".

Até tu, Brutus?

Resta ainda um enigma, que deixava até alguns historiadores antigos céticos: a suposta frase "Tu também, meu filho?", dita quando César viu Bruto entre os assassinos. Primeiro, ela teria sido pronunciada em grego, língua na qual ela é ambígua. Kai su, têknon também pode querer dizer "você também, menino/moleque". "Minha impressão é que, ao colocar a frase em grego, os escritores antigos querem dar a impressão de que César está citando alguma tragédia. Ou seja, estão colocando palavras na boca dele, num contexto literário. Ia ser muito difícil ouvi-lo no meio daquela confusão toda", afirma Isabella, que se diz cética a respeito de todos os detalhes do episódio. Reza a lenda que, depois da morte do ditador, Bruto tentou fazer um discurso para os Liberatores (como os assassinos se denominavam), mas eles e os demais senadores acabaram fugindo da cena do crime. Com a fria reação popular ao fim de César, os Liberatores se viram num dilema e acabaram se sentando à mesa de negociação com Antônio. Afinal, se César tinha mesmo sido um tirano, nenhuma de suas decisões era válida - inclusive as nomeações de vários dos assassinos para cargos importantes e rentáveis. As conversas acabaram terminando no que parecia uma monumental pizza: César não seria oficialmente declarado tirano, e portanto poderia receber funerais dignos, e os Liberatores não seriam declarados assassinos, mantendo assim o cargo e a posição social. Plano digno de outro Senado que todos conhecemos, sem dúvida, se não fosse pela malandragem e pelo poder oratório de Antônio. Nos funerais, ele exibiu uma imagem de cera, em que se viam os ferimentos sofridos por César, e fez um elogio fúnebre com tamanha paixão que o povo de Roma, revoltado, jurou vingança contra os Liberatores. Mesmo anistiados, Cássio e Bruto decidiram fugir para as províncias romanas do Oriente. Lá, a dupla de conspiradores reuniu soldados para tentar conquistar todo o Império Romano, mas era mais fácil matar César que imitá-lo. Uma aliança entre Marco Antônio, Marco Emílio Lépido (outro general de César) e o herdeiro e sobrinho-neto do ditador, Otaviano, esmagou as forças de Bruto e Cássio em Filipos, na Macedônia. A dupla cometeu suicídio (ou, para ser mais exato, Bruto se matou e Cássio mandou que um de seus ex-escravos o matasse). Ainda não era o fim das grandes guerras civis romanas - nas décadas seguintes, Otaviano derrotaria Antônio e viraria Augusto, o primeiroimperador. Mas, sem dúvida alguma, era o fim das chances de poder para sujeitos como Cássio, Bruto, Casca e os demais senadores, que se diziam Liberatores


E se César tivesse escapado?
O tirano teria se tornado imperador ou morrido em batalhas


Imagine uma realidade alternativa na qual César, um pouquinho mais preocupado com a própria segurança, só faz suas poucas e imponentes aparições públicas rodeado por uma guarda de gauleses brutamontes, muito bem pagos e leais apenas ao ditador. À primeira vista, o resultado dessa política mais cautelosa parece óbvio: Roma teria seu primeiro imperador uns 20 anos antes do que realmente acabou acontecendo (com a subida ao poder de Augusto, sobrinho-neto e herdeiro de César). De resto, tudo teria caminhado mais ou menos do mesmo jeito que no nosso mundo. Ou não? "A ascensão do Principado [o governo absoluto de Augusto] certamente parece inevitável a partir da nossa perspectiva, mas deveríamos ser mais humildes ao tentar prever o que aconteceria. Para começar, se a tentativa de assassinato não tivesse acontecido, César teria partido para outra campanha militar", diz Isabelle Pafford, referindo-se ao plano do ditador de atacar o Império da Pártia, que então dominava vastas regiões na Mesopotâmia e na Pérsia. Acontece que as legiões romanas já tinham levado sovas consideráveis na Pártia, o que significa que César podia muito bem acabar morrendo em batalha. "Nesse caso, o Império Romano teria se fraturado, com a própria Roma entrando em declínio", diz ela. "Com Júlio César vivo, os rumos do Império aparentemente seriam muito diversos do que foram. Ele teria tudo para antecipar as tendências centralizadoras e para implantar um culto imperial [no qual o governante era adorado como deus] ainda mais robusto. O Senado teria menos poder simbólico do que teve com Augusto", afirma Pedro Paulo Funari. Pode até ser que Marco Antônio fosse nomeado como sucessor. Assim, diz o historiador, Roma ficaria cada vez mais voltada para o Oriente, onde esses modelos de governo eram mais conhecidos e bem aceitos. "Haveria movimentos messiânicos na Palestina, como o de Jesus? Haveria a destruição de Jerusalém em 70 d.C.? Não se sabe", diz Funari, levando em conta que a relação de César com a população judaica da Palestina e do resto do Império era bastante pacífica.

Política na faca
Assassinatos políticos já eram praxe séculos antes de César tombar no Senado

Israel, 840 a.C.

Jeú, general do exército, conspirou contra o rei Jorão, matou-o com uma flechada no coração e aproveitou para liquidar a rainha-mãe Jezebel, junto com outros 70 membros da família real. Jeú tornou-se rei.

Grécia, século 6 a.C.

Dois jovens amantes atenienses, Harmôdio e Aristogeiton, tentaram despachar os irmãos Hípias e Hiparco, que mandavam em Atenas, ocupando a posição de tiranos. Hiparco morreu, Hípias escapou e os conspiradores foram mortos.

Pérsia, século 6 a.C.

Parente distante dos reis da Pérsia e oficial do exército, Dario alegou que o soberano do momento na verdade era um impostor e, com ajuda de outros nobres do império, invadiu o palácio real e o matou com suas próprias mãos, tornando-se imperador.

Macedônia, 336 a.C.

Alexandre, o Grande, ganhou o trono graças à morte violenta de seu pai, Filipe II, atacado por um membro de sua guarda pessoal (e seu ex-amante). Acredita-se que o assassinato tenha sido orquestrado pela mãe de Alexandre.

Os suspeitos

Caio Cássio Longino

General com experiência nas guerras romanas no Oriente, estudou filosofia na Grécia e se aliou a Pompeu, líder da facção aristocrática inimiga de César, quando estourou o conflito civil em Roma. Quando Pompeu foi derrotado, Cássio recebeu o perdão oficial de César e o cargo de pretor, mas não ficou nem um pouco satisfeito.

Marcos Júnio Bruto

Descendia de um ancestral famoso e semilendário que, segundo a tradição, fora responsável por expulsar Tarquínio,o último rei de Roma. Sua mãe, Servília, era amante de César. Como Cássio, seu cunhado, ele acabou se aliando a Pompeu durante a guerra civil, sendo perdoado assim que se rendeu.

Décimo Júnio Bruto Albino

Parente distante do outro Bruto e do próprio César, era um almirante de mão cheia, que ajudou o ditador a vencer batalhas navais durante a conquista da Gália e na guerra civil. Com reputação acima de qualquer suspeita, os conspiradores trataram de recrutá-lo, junto com outros membros do círculo de César que andavam descontentes.

Públio Servílio Casca

Casca e seu irmão, Caio, eram senadores membros de uma família leal a César, mas tudo indica que a falta de perspectivas políticas para o Senado com o poder cada vez mais absoluto do ditador os levou a se juntar aos conspiradores. Públio Casca, segundo os autores antigos, foi o primeiro senador a ferir César com sua adaga.

Marco Túlio Cícero

Excelente orador, escritor e filósofo, foi o grande articulador do partido aristocrático, os Optimates, pouco antes da guerra civil e durante o conflito. Aceitou o domínio de César e fez os senadores jurarem defender a vida do ditador. Mas não deixava de queimar o filme de César. Não participou diretamente do atentado.

Fonte:http://historia.abril.com.br/gente/assassinato-julio-cesar-506898.shtml

APARTHEID




O apartheid foi um dos regimes de discriminação mais cruéis de que se tem notícia no mundo. Ele vigorou na África do Sul de 1948 até 1990 e durante todo esse tempo esteve ligado à política do país. A antiga Constituição sul-africana incluía artigos onde era clara a discriminação racial entre os cidadãos, mesmo os negros sendo maioria na população.Em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, os europeus chegaram à região da África do Sul. Nos anos seguintes, a região foi povoada por holandeses, franceses, ingleses e alemães. Os descendentes dessa minoria branca começaram a criar leis, no começo do século XX, que garantiam o seu poder sobre a população negra. Essa política de segregação racial, o apartheid, ganhou força e foi oficializada em 1948, quando o Partido Nacional, dos brancos, assumiu o poder.O apartheid, que quer dizer separação na língua africâner dos imigrantes europeus, atingia a habitação, o emprego, a educação e os serviços públicos, pois os negros não podiam ser proprietários de terras, não tinham direito de participação na política e eram obrigados a viver em zonas residenciais separadas das dos brancos. Os casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes eram ilegais. Os negros geralmente trabalhavam nas minas, comandados por capatazes brancos e viviam em guetos miseráveis e superpovoados.Para lutar contra essas injustiças, os negros acionaram o Congresso Nacional Africano - CNA, uma organização negra clandestina, que tinha como líder Nelson Mandela. Após o massacre de Sharpeville, o CNA optou pela luta armada contra o governo branco, o que fez com que Nelson Mandela fosse preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. A partir daí, o apartheid tornou-se ainda mais forte e violento, chegando ao ponto de definir territórios tribais chamados bantustões, onde os negros eram distribuídos em grupos étnicos e ficavam confinados nessas regiões.A partir de 1975, com o fim do império português na África, lentamente começaram os avanços para acabar com o apartheid. A comunidade internacional e a Organização das Nações Unidas - ONU faziam pressão pelo fim da segregação racial. Em 1991, o então presidente Frederick de Klerk não teve outra saída: condenou oficialmente o apartheid e libertou líderes políticos, entre eles Nelson Mandela.A partir daí, outras conquistas foram obtidas: o Congresso Nacional Africano foi legalizado, De Klerk e Mandela receberam o Prêmio Nobel da Paz (1993), uma nova Constituição não-racial passou a vigorar, os negros adquiriram direito ao voto e em 1994 foram realizadas as primeiras eleições multirraciais na África do Sul e Nelson Mandela se tornou presidente da África do Sul, com o desafio de transformar o país numa nação mais humana e com melhores condições de vida para a maioria da população.A África do Sul é um país de grande importância estratégica para o mundo ocidental. Ao longo de sua costa viajam quase todos os navios que transportam petróleo para o Ocidente. É rica em ouro, diamantes, carvão, ferro, minérios, cromo e urânio, vital para a indústria militar. Tem uma população de aproximadamente 44 milhões de pessoas, sendo 85% negros.






O termo apartheid significa "separação" ou "identidade separada". Serviu para designar o regime político da África do Sulque, durante décadas, impôs a dominação da minoria branca (ou aristocracia branca) sobre grupos pertencentes a outras etnias, compostos em sua maioria por negros.O apartheid não deve ser interpretado como simples "racismo", pois ele foi um sistema constitucional de segregação racial que abrangeu as esferas social, econômica e política da nação sul-africana estabelecendo critérios para diferenciar os grupos.A origem histórica do apartheid é bem antiga e remonta ao período da colonização da África do Sul. Os primeiros colonizadores bôeres (também denominados de afrikaner) compunham-se de grupos sociais europeus que vieram da Holanda, França e Alemanha e se estabeleceram no país nos séculos 17 e 18.



Ideologia nacionalista


Esses colonizadores dizimaram as populações autóctones (grupos tribais indígenas) e tomaram suas terras. Os líderes afrikaners manipularam e converteram um preceito religioso cristão, que a princípio estabelecia a segregação como uma forma de defender e preservar as populações tribais da influência dos brancos, em uma ideologia nacionalista que pregava a desigualdade e separação racial.Os afrikaners se consideravam a verdadeira e autêntica nação (ou volk, que em alemão significa povo). A cor e as características raciais determinaram o domínio da população branca sobre os demais grupos sociais e a imposição de uma estrutura de classe baseada no trabalho escravo.

Política racial


Nas regiões dominadas por eles estabeleceu-se uma política racial que diferenciou os europeus (população branca) dos africanos (que incluía todos os nativos não-brancos, também conhecidos por bantus). Até mesmo aqueles grupos sociais compostos por imigrantes asiáticos, em particular indianos, sofreram com a política de discriminação racial. Seria engano supor que a expansão do domínio dos afrikaners sobre a população não-branca da África do Sul foi um processo livre de conflitos. Pelo contrário, houve muitas guerras com as populações tribais que ofereceram resistência aos brancos, entre elas as tribos xhosa, zulu e shoto.No início do século 20, a África do Sul atravessou um intenso processo de modernização que intensificou os conflitos entre brancos e não-brancos. Não obstante, a minoria branca soube explorar os conflitos intertribais que afloravam entre os diferentes grupos étnicos e isso de certo modo facilitou a avanço e domínio dos afrikaners

As principais leis do Apartheid


Apartheid significa segregação ou separação racial. Esse termo foi usado no passado para designar o sistema de organização política implantado na África do Sul a partir de 1948. Assim, a população negra não tinha os mesmos direitos que a branca. Aproximadamente 70% da população sul-africana era constituída por negros, porém a minoria branca dominava. Os negros não tinham odireito  de votar, de possuir propriedades na mesma área que brancos e de circular livremente. 

Observando esses itens nota-se um completo desrespeito com a vida humana, o apartheid possuiu leis que o sustentava, a seguir as principais - que vigorou até 1990: 

• Em 1949 foi criada a lei que proibia o casamento entre brancos e negros.

• No ano de 1950 foi implantada a lei que determinava que todos os registros (certidão de nascimento, identidade, entre outros) deveriam conter expressa a raça, ou seja, branco ou negro. 

• No mesmo ano foi instaurada a lei que obrigava a separação entre brancos, negros e mestiços, além de impedir que negros adquirissem terras. 

• Em 1952 foi criada uma lei que proibia a livre circulação de negros, para se locomover era necessária a obtenção de um documento que autorizava o deslocamento. 

• No ano seguinte foi implantada uma lei que visava a proibição de movimentos sociais por parte dos negros, além da separação dos serviços públicos para negros e brancos, como escola, hospital, praça pública, estádio esportivo etc.