segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

BISMARCK - O NAVIO DE GUERRA MAIS PODEROSO DO MUNDO


Afundem o Bismarck!







O encouraçado alemão Bismarck, um terror dos mares, um moderníssimo navio de combate, foi posto a pique pela esquadra inglesa do Atlântico na manhã do dia 27 de maio de 1941. Ele fora alvo de uma das maiores caçadas navais do século XX, quando a maior parte dos navios de guerra da Grã-Bretanha, senhora da mais poderosa esquadra do mundo, colocou como prioridade máxima afundar o Bismarck. Com ele foi-se a possibilidade da Alemanha nazista interceptar pela superfície os barcos que vinham de todos os lados do mundo para abastecer as ilhas britânicas. Dali em diante, quem tomou a tarefa de infernizar os comboios aliados foram os submarinos.




Localizando o Bismarck

Saindo das nuvens que cobriam o vasto oceano, o Catalina, um avião de observação da RAF (Royal Air Force), logo visualizou o que lhe pareceu um enorme navio de guerra lá embaixo. Quando Dennis Briggs, seu piloto, tratou de manobrar para vê-lo melhor, foi surpreendido por uma ativa barragem de fogo que partira das torres do gigante. Era um navio inimigo. Certamente ele encontrara o Bismarck. Naquele instante, a partir das 10h30m do dia 26 de maio de 1941, todas as embarcações inglesas receberam o comunicado. O encouraçado alemão, de quem haviam perdido o contanto por mais de 31 horas, estava navegando em mar alto há uns 300 quilômetros distante da ilha da Irlanda. A ordem, peremptória, então veio diretamente do Almirantado: afundem o Bismarck! afundem o Bismarck! Estava para se encerrar uma das maiores perseguições navais de todos os tempos.

Orgulho da marinha alemã




O Bismarck fazia parte de um conjunto de modernos encouraçados mandados construir por Hitler a partir de 1935 para recuperar o prestígio da Kriegsmarine, a marinha de guerra alemã. Além dele, saíram dos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, o Scharnhorst, Gneisenau, o Prinz Eugen e o Tirpitz, caracterizados pela extrema concentração de tonelagem articulada com uma excelente artilharia de bordo que os colocaram na vanguarda das embarcações de guerra do seu tempo. Antes de tudo, os encouraçados eram um feito da engenharia naval alemã.



Operação "Rheinübung"



A operação Rheinübung, "Exercício Reno", que decidiu a partida do Bismarck e do Prinz Eugen de dentro do Mar Báltico para o alto mar, era o seguimento de uma outra operação, a "Berlim", ambas determinadas pelo almirante Erich Raeder em abril de 1941, levada a efeito por dois outros encouraçados, o Scharnhorst e o Gneisenau. Estes haviam afundado 22 barcos com mais de 115 mil toneladas, mas não puderam seguir em missão devido a problemas mecânicos e o temor de vê-los perdidos num ataque concentrado de aviões da RAF. 


Ao tempo em que o Alto Comando da Kriegsmarine recolhia os dois encouraçados para a proteção do porto francês de Brest (a França naquela altura estava ocupada pelos nazistas desde junho de 1940), o almirante Lütjens traçou as diretrizes para que o Bismarck e o Prinz Eugen se lançassem pela águas do Mar do Norte, dando continuidade ao objetivo de localizar e afundar os comboios anglo-americanos. O fim de tudo era deixar o Reino Unido carente de forças materiais para seguir na guerra. A estratégia de Hitler era isolar as ilhas britânicas, assolá-las pelo ar com os bombardeios e impedir que recebessem qualquer auxilio vindo pelo mar, promovendo um lento garrotear das suas energias para obrigar Churchill e o governo inglês à capitulação.



A batalha do estreito da Dinamarca

Escorando-se no complicado litoral da Noruega (dominada pelos nazistas desde a invasão de 1940), depois de ter partido do porto de Gotenhafen, em Danzig, no Báltico, no dia 18 de maio de 1941, a dupla de encouraçados achou por bem fazer um dilatado contorno pelas águas geladas da Islândia e da Groenlândia, com a intenção de cair sobre suas presas na metade do caminho do Atlântico Norte. Esta rota, cruzando águas pouco freqüentadas, também era a mais segura, evitando que os dois barcos pudessem ser reconhecidos pelos aviões-patrulha da RAF. Desde que eles rumaram para o oceano, teve início um jogo de esconde-esconde com os britânicos, onde por vezes eles era localizados, e, em outras, perdiam-nos de vista por dias a fio. O plano do almirante Lütjens era fazer com que os dois encouraçados atingissem seus alvos assim que eles ultrapassassem o estreito da Dinamarca, uns 500 quilômetros que separam a ilha da Islândia da Groenlândia. O almirante britânico Tovey não demorou a perceber a manobra e determinou a formação de duas task force, força tarefa, para esperarem os dois barcos alemães na saída do estreito, ao sul da ilha da Islândia.




A tragédia do Hood

A primeira força tarefa era composta por dois navios, os encouraçados Prince of Wales e o Hood, que, deslocados para lá, tentaram bloquear a saída do estreito da Dinamarca. Enquanto isso, uma segunda força tarefa, com uns 13 outros barcos (entre eles o King George V e o porta-aviões Victoria), corria em auxilio dos barcos ingleses. Na madrugada do dia 24 de maio de 1941 deu-se o encontro. De um lado, as duas belonaves alemãs, do outro os dois encouraçados ingleses. Um fantástico duelo de artilharia, onde os adversários mal se enxergavam pelos binóculos, afastados de 20 a 25 quilômetros uns dos outros, teve início. Na quinta salva de tiros disparada pelo Bismarck, de uma distância de 15 quilômetros, deu-se o infausto para os ingleses. Atingido em cheio, o Hood, um dos mais estimados navios da Home Fleet, a Marinha Britânica, explodiu de vez, afundando às 6 horas da manhã. Em apenas 3 minutos, 30 mil toneladas de aço foram para o ar e para o fundo do mar, visto ter explodido o seu paiol de munições. Mais de 1.400 marujos pereceram com ele, só três sobreviveram. O Prince of Wales, atingido em seguida, sem perder, porém, a possibilidade de navegar, bateu em retirada protegido por uma cortina de fumaça.




Tentando escapar


O Bismarck, porém, não saiu ileso do confronto. O duelo também deixou-lhe cicatrizes difíceis de serem pensadas em meio ao oceano. O almirante Lütjens concluiu que o barco não reunia mais as condições de cumprir com sua missão original. Decidiu então aprumá-lo em direção ao porto francês de Saint Nazaire, no litoral atlântico da França, para fazer os reparos necessários. Ocorre que ele teria que percorrer, com escassa proteção, 965 quilômetros em mar aberto para conseguir o intento. Justamente ao acertar o rumo de volta ao continente, é que o Bismarck, quase dois dias depois de ter posto a pique o Hood e de ter espantado o Prince of Wales da sua rota, foi novamente localizado. Ter sido avistado pelo solitário vôo do Catalina foi a sua perdição.



O Fim


Localizado, os ingleses decidiram-se por liquidá-lo primeiro por meio de torpedos, entre outras razões para poupar seus barcos de guerra de serem destruídos pelas salvas certeiras do Bismarck. A missão recaiu para o Ark Royal, o navio capitania da Força H (mais os encouraçados Renown e Sheffield) o mais poderoso porta-aviões da esquadra atlântica da Grã-Bretanha. Na direção do alvo, alçaram vôo várias esquadrilhas de Swordfish que conseguiram acertá-lo. Dois ou três torpedos obrigaram o grande barco a reduzir sua velocidade e a ficar girando no mesmo lugar devido a uma avaria no leme. No dia seguinte, o Bismarck parecia um touro de aço ferido de morte. O almirante Lütjens enviara às 21h40m a mensagem derradeira para os seus superiores: "navio sem condições de manobrar. Nós vamos lutar até o último cartucho. Vida longa ao Führer."




Era a hora dos toureiros se aproximarem dele para darem a estocada final. As 9 horas da manhã do dia 27 de maio de 1941, os encouraçados ingleses o King George V e o Rodeny assentaram suas alças de mira e abriram fogo contra o colosso que, navegando em marcha lenta, pouco mais podia fazer. Quando ele já estava bastante avariado, agonizando, os encouraçados Dorsetshire, Nortfolk, aproximaram-se para golpeá-lo com seus torpedos. O capitão Ernst Lindemann, sem mais nada poder fazer, ordenou à tripulação que abrisse as comportas para afundar o navio, ao mesmo tempo em que a sua voz ressoou pelos alto-falantes de bordo ordenando que todos o abandonassem. Em poucos minutos, a água invadiu todos os compartimentos. Eram 10h39m da manhã do dia 27 de maio quando o Bismarck, fumegando e resfolegando, ainda taurino, afundou no Atlântico. O Oceano vinha reclamar a sua parte do botim. Dos 2.221 tripulante só sobreviveram 115.


(*) Fonte: O melhor site sobre o afundamento do Bismarck é ohttp://www.bismarck-class.dk, no qual retiramos a maior parte das informações.


torturas na idade média


Sessão de horror : Nas masmorras, vítimas tinham juntas deslocadas e couro cabeludo arrancado


RODA DE FOGO

A roda foi um suplício muito usado a partir do século 12. O prisioneiro era amarrado na parte externa de um grande disco de madeira, colocado sobre um recipiente contendo brasas incandescentes. Ao girar lentamente a roda, o carrasco fazia com que o corpo do torturado ficasse exposto ao calor, até que o réu morresse em conseqüência das queimaduras sofridas

TECNOLOGIA CRUEL

O desenvolvimento da relojoaria na Idade Média inspirou novos instrumentos a serviço da dor. A "pêra" era um aparelho com pequenos mecanismos e molas em seu interior. Ela era introduzida no reto ou na vagina da vítima e, com o uso de parafusos, os mecanismos de relojoaria eram acionados para expandir o volume do objeto, causando graves dilacerações

PESADELO FEMININO

Algumas formas de tortura eram aplicadas exclusivamente às mulheres. A mastectomia (remoção dos seios) era uma delas. A vítima tinha as mamas dilaceradas e em seguida arrancadas, com o emprego de pinças e outros instrumentos de ferro aquecidos. Em certas ocasiões, a mulher era obrigada a engolir os próprios seios e acabava morrendo sufocada

BATENDO AS BOTAS

Forma de tortura popular na Escócia medieval, as botas eram um tipo de "calçado" com o interior forrado por pontas metálicas. O condenado era obrigado a colocá-las nas pernas, enquanto o carrasco as ajustava com um pesado martelo, fazendo com que as pontas penetrassem na carne. Os poucos réus que sobreviviam a tal pesadelo ficavam aleijados ou mutilados

URNA PAULEIRA

Se você gosta de rock, certamente conhece o grupo Iron Maiden, "Donzela de Ferro" em inglês. Mas talvez não saiba que a banda foi batizada com o nome de um instrumento de tortura. Tratava-se de uma urna, em formato de mulher, com o interior cheio de estacas de metal. O prisioneiro era obrigado a entrar na urna e as portas eram fechadas, pressionando as estacas contra seu corpo, o que provocava dolorosos ferimentos

ALONGAMENTO RADICAL

O estrado era uma prancha de madeira com mecanismos para esticar o corpo da vítima. Depois de ter os pulsos e tornozelos amarrados por cordas nas extremidades da prancha, os mecanismos eram acionados lentamente e puxavam o corpo em direções opostas. A vítima tinha as juntas deslocadas e os tendões rompidos e no final podia ser desmembrada

ESCALPO EUROPEU

Outra forma de tortura usada só contra mulheres era a laçada. Ela surgiu na Idade Média, mas foi empregada na Rússia até o início do século 20. Durante as sessões de interrogatório, carrascos enredavam o cabelo de mulheres acusadas de algum crime em pedaços de metal, que eram torcidos até que o couro cabeludo fosse arrancado

A pena de morte no mundo antigo – Grécia e Egito



A pena de morte era amplamente utilizada no mundo antigo, o tribunal era constituído por reis, sacerdotes, juízes, e cidadãos, dependendo do período e da civilização. Nem sempre a aplicação da pena capital seguia a um código jurídico, ou estava apoiada no flagrante do delito. O que obviamente revelam as inúmeras execuções de inocentes.
O julgamento ateniense na Grécia clássica era realizado na Ágora, os jurados eram escolhidos entre os cidadãos e as penas variavam conforme a gravidade do delito, o transgressor poderia sofrer multas, escravidão, exílio e até execução.  
Com o flagrante, o acusado do delito poderia ser executado a pauladas, apedrejamento ou ainda poderia ser jogado do alto da acrópole, sem a necessidade de um julgamento, essa aplicação de pena capital automática só não era praticada durante o período dos festivais religiosos, nesta época não poderiam acontecer qualquer tipo de assassinato. Eram executados em geral os homicidas, traidores e piratas.
Aos mais abastados à execução era por meio de uma bebida a base do suco de planta venenosa, um famoso exemplo da pratica a pena de morte, foi a execução de Sócrates[1], que preferiu a morte a manchar sua cidadania.  “Em 399, Sócrates foi acusado de heresia por pequena maioria dos 501 jurados, uma ampla maioria votou pela pena de morte”. (Cartledge, 2009, p. 236)
Aos menos afortunados a execução também se dava através de fixar braços, pernas e pescoço com braçadeiras de ferro, a placas de madeira, onde os acusados morriam de fome e sede. Essa pena foi aferida aos revoltosos da Ilha de Samos por Péricles.
No Egito as leis eram promulgadas pelos faraós e pelos sacerdotes que também funcionavam como juízes. Existem poucas fontes do direito egípcio, um exemplo de registro do direito penal que chegou até nossos dias, pertence a 19ª dinastia, uma estela de Karnak.
A pena de morte era aplicada quando o acusado mentia ao tribunal, o kenbet[4], esse perjúrio poderia custar não só a vida do acusado, mas também o de toda a sua família. Entretanto esta penalidade não era empregada quando a mulher era a criminosa, neste caso o marido não seria morto com ela.
Os crimes mais graves no Egito eram os cometidos contra o estado, o rei e ainda no roubo as tumbas. Geralmente as penas eram de entregar o criminoso aos crocodilos, ou por empalação no estômago, ou ainda o condenado era queimado vivo. Nos crimes contra o rei, o acusado ao final do julgamento era convidado a se matar.
As punições nem sempre estavam ligadas a gravidade do delito, o que tornava o tribunal numa roleta russa. Outro tipo de penalidade ainda empregada junto a execução era de negar o enterro ao executado, o que na cultura egípcia impediria o seu renascimento.
Percebemos que a aplicação da pena de morte na antiguidade estava muito ligada à condição social do acusado, assim como a  falta de autonomia da mulher, fazia do adultério feminino uma sentença de morte. Em nossos dias alguns países ainda utilizam-se da pena de morte, embora as formas de execução possam não ser as mesmas da antiguidade, concluímos que praticas do mundo antigo, não ficaram no passado.

Penas de Morte mais estranhas


ESMAGAMENTO POR ELEFANTE
ONDE: Sudeste Asiático
QUANDO: Até o século 19
PUNE O QUÊ? Crimes militares
Os réus tinham a cabeça esmagada pelas patas de elefantes, animais que pesam 9 toneladas. Registros desse método paquidérmico aparecem em livros do século 17, como o que foi escrito em 1681 pelo expedicionário inglês Robert Knox. Durante uma viagem ao Ceilão - atual Sri Lanka - ele testemunhou uma execução

EMPALAMENTO
ONDE: Oriente Médio e Europa
QUANDO: Da Antiguidade à Idade Média
PUNE O QUÊ? Crimes contra o Estado
Dos persas aos suecos, muitos governantes foram adeptos do doloroso método de introduzir um bastão de madeira pontudo pelo ânus do condenado. Em alguns casos, depois de empalada, a vítima ainda era espetada ao chão, onde ficava até morrer. O bastão impedia a saída do sangue, prolongando a agonia

ESFOLAMENTO
ONDE: Oriente Médio e Europa
QUANDO: Até o século 1
PUNE O QUÊ? Crimes religiosos
A retirada da pele era uma maneira nada sutil de tirar também a vida do condenado. Conta-se que São Bartolomeu, um dos 12 apóstolos de Jesus, foi esfolado antes de ser crucificado no século 1, por ordem do rei armênio Astiages. O afresco do Juízo Final que Michelangelo pintou na Capela Sistina, no Vaticano, também exibe um cadáver esfolado

ESTRIPAÇÃO
ONDE: Japão, Espanha, Inglaterra
QUANDO: Idade Média e Moderna (até o século 16)
PUNE O QUÊ? Desonra e pecados religiosos
Por um corte na barriga, o réu tem seus órgãos internos arrancados um a um. Primeiro o intestino delgado, depois o grosso, então o fígado... O método foi empregado pela Inquisição espanhola. No Japão, era comum para liquidar samurais: aqueles que não cometiam haraquiri ? o tipo de suicídio em que se rasga a barriga com uma espada ? eram mortos desse jeito

ESQUARTEJAMENTO
ONDE: Europa
QUANDO: Idade Média
PUNE O QUÊ? Crimes contra o Estado
Os braços eram presos a uma árvore, enquanto as pernas ficavam amarradas a cavalos ou burros, atiçados para andar até deslocar e arrancar os membros da vítima. Havia também máquinas de madeira feitas especialmente para modernizar o martírio: ao rodar uma manivela, o carrasco separava os membros dos condenados

FERVURA
ONDE: Europa
QUANDO: Idade Média e Moderna (até o século 16)
PUNE O QUÊ? Tentativas de envenenamento
O condenado era colocado em água ou óleo e fervido até a morte. O processo podia durar até duas horas. Mesmo os frios britânicos aprovaram a escaldante pena de morte em 1531, quando o rei Henrique VII mandou para o caldeirão o cozinheiro Richard Rosse, acusado de ter envenenado a comida de um bispo

RODA DA MORTE
ONDE: Europa
QUANDO: Idade Média
PUNE O QUÊ? Crimes religiosos e contra o Estado
Com braços e pernas amarrados em traves, o réu tinha os ossos quebrados com marteladas. Com o corpo amolecido, seus membros eram entrelaçados nos raios de uma roda que era pendurada em um poste. Nos dias seguintes, o cadáver servia de alimento para as aves de rapina

APEDREJAMENTO
ONDE: Afeganistão, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Irã, Nigéria, Paquistão e Sudão
QUANDO: Do século 2 até hoje
PUNE O QUÊ? Adultério
Com a lei islâmica, a Sharia, não tem brincadeira. As pessoas casadas que pulam a cerca são enterradas ? as mulheres até o peito, os homens da cintura para baixo ? e alvejadas pelo povão com pedras pequenas, até a morte. Se o traidor não for oficialmente casado, o castigo é mais leve: cem chibatadas

Dica de site para pesquisas históricas

http://povosdaantiguidade.blogspot.com/

Assírios x Babilônicos: a ruína do gigante






A casa era a cara do dono. Escavadas nas paredes de pedra, cenas de tirar o fôlego: armadas com couraças, elmos, escudos côncavos, lanças e arcos, as tropas reais encurralam os inimigos e os empurram para um rio. Homens e cavalos, crivados de flechas, afogam-se na correnteza. Em triunfo, um soldado passeia pelo campo de batalha exibindo a cabeça de um rei adversário. Sim, tais cenas de terror faziam parte da decoração do palácio de Assurbanipal (668-631 a.C.), o temido e cruel soberano da Assíria. O emblemático painel, no entanto, tem dois significados históricos. Representa, ao mesmo tempo, a vitória de Assurbanipal sobre reino do Élan em 650 a.C. – e o começo do fim da Assíria. Com o conflito contra os seus mais antigos vizinhos, os assírios incendiaram a velha rixa com os aliados dos elemitas, os babilônicos, e ainda deixaram suas fronteiras expostas aos bárbaros que habitavam o atual Irã. A região virou um barril de pólvora. E o início da guerra total foi uma questão de tempo. O embate com a Babilônia, apoiada pelas tribos iranianas, pôs um ponto final na história do primeiro grande império da humanidade.


Sem dúvida, a habilidade militar foi tanto a força quanto a fraqueza da Assíria. Desde o ano 1200 a.C., o reino de Assurbanipal brigou pelo domínio da Mesopotâmia, hoje Iraque, com a vizinha Babilônia. Entre os assírios, a guerra era um dos principais deveres do soberano. “Havia uma tradição anual de campanhas militares, programadas para afirmar a autoridade assíria e prevenir ataques nas fronteiras. Os reis, ao subirem ao trono, faziam um juramento de estender os domínios do deus Assur, que dava nome à capital”, escreveu o arqueólogo inglês John Curtis, curador de antiguidades da Mesopotâmia e do Irã no Museu Britânico, em Londres. Segundo Curtis, ao longo do século 9 a.C., a autoridade assíriacomeçou a se estender além das fronteiras próximas aos vales dos rios Tigre e Eufrates e começou a alcançar as regiões montanhosas próximas ao Irã, e partes da Síria, da Palestina e da Turquia. Por trás do sucesso das conquistas territoriais, aconteceu a organização do exército. “É um tema que tem gerado debates, mas uma coisa certa é que eles desenvolveram um exército regular”, diz o historiador John Brinkman, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. “Antes os camponeses tinham de ser recrutados periodicamente para lutar e, depois, desmobilizados. Agora, no entanto, o exército funcionava o ano todo e tinha se profissionalizado.”

A dimensão do poder de fogo das tropas assírias ganha realidade nas esculturas e baixos-relevos da época. Usando capacete cônico de ferro e colete coberto de escamas metálicas, os arqueiros do rei de Assur jogavam uma chuva de flechas sobre as cidades inimigas, enquanto eram protegidos por outros soldados, carregando grandes escudos de madeira. Parte dos guerreiros especializava-se em cortar os suprimentos de água do inimigo ou, com a ajuda de armaduras pesadas e a cobertura dos arqueiros, abria buracos nas muralhas de proteção dos reinos inimigos. Os assírios contavam até com “tanques” de guerra, veículos cobertos com pesado couro e equipados com aríete que arrebentava os portões das cidades atacadas. Em tempos de alta tecnologia de guerra, não é fácil imaginar o poder de fogo desses rudimentares equipamentos. Mas era essa parafernália que fazia a fama dos reis da Assíria, temidos por todo o Oriente Médio.

A formação do império

Temidos fora de casa, ameaçados internamente. A partir de 827 a.C., os nobres se rebelaram, seguindo-se um longo período em que os soberanos perderam a autoridade. A situação só mudou com a chegada de Tiglat-Falasar III ao trono, em 741 a.C. Ele pode ser considerado o pai do Império Assírio: esmagou os revoltosos e não se contentou em só arrancar tributos dos vencidos, mas impôs governadores nomeados e anexou as terras conquistadas aos seus domínios, fazendo nascer, assim, a noção de império como conhecemos hoje. Os reis que vieram depois dele – Sargão II, Senaqueribe e Assaradon – deram continuidade à política expansionista. No caminho dos vorazes reis assírios, no entanto, estavam as tribos caldéias, no sul da Mesopotâmia. Na tentativa de arrebanhar o poder na Babilônia, eles se aliaram aos elemitas para frear a ambição assíria. Originalmente os caldeus eram nômades do deserto da Arábia. Séculos antes, fixaram-se nas cidades, tornando-se poderosos comerciantes.

A briga se estendeu durante todo o século 7 a.C. Caldeus, apoiados pelos elamitas, chegaram a assassinar o herdeiro do rei Senaqueribe, que tinha sido nomeado governador da Babilônia. Em represália, o monarca mandou destruir a cidade. Durante o reinado de Assurbanipal, os elemitas ajudaram novamente os babilônicos, liderados pelos caldeus, a se rebelar. Mas acabaram aniquilados pelos assírios. A vitória, no entanto, assinou a sentença de morte do grande império. “Parece haver um consenso entre os estudiosos de que, quando os assírios destruíram o Elam, removeram um estado-tampão importante que os protegia dos iranianos”, diz Brinkman. Na época, os habitantates da região onde hoje está fincado o Irã viviam sob o domínio dos ferozes medos, povo de origem persa que logo se tornou o inimigo número 1 da Assíria, assumindo o papel antes representado pelos elemitas. Com a aliança entre caldeus e medos, a guerra pegou fogo – e atravessou o século. “Uma das coisas importantes é que os assírios parecem ter se exaurido numa longa série de guerras, principalmente o conflito protagonizado pelo rei Assurbanipal contra os elamitas”, conta o historiador americano. Em 612 a.C., depois da captura da cidade de Assur, medos e caldeus atacaram juntos Nínive, a capital doimpério, e a arrasaram em três grandes batalhas. O profeta judeu Naum, cujo povo também tinha sofrido a pressão assíria, comemorou a derrota com versos presentes na Bíblia: “Todos os que ouvem tua história [a de Nínive] batem palmas ao ouvi-la; pois sobre quem tua crueldade não passou continuamente?”. Os herdeiros do império, agora, eram os babilônicos.

O mundo sem os assírios

A decadência do Império Assírio é um somatório de acontecimentos: guerra civil, campanhas militares internas para manter os domínios e, principalmente, a guerra contra os medos, os líderes das tribos iranianas. Acostumados à vida nômade, eles tinham a vantagem de uma liderança fortemente centralizada e de um exército simples, mas eficaz, composto por lanceiros e arqueiros. Quando a cidade de Assur foi destruída, o rei dos medos, Ciaxares, jurou amizade e aliança ao chefe caldeu sobre as ruínas da cidade. Tal acordo dividiria o mundo antigo entre os dois povos. O rei Nabopolassar e seu filho, Nabucodonosor, ficaram com o sudeste: Mesopotâmia, Síria, Palestina. Já os medos se expandiram por todo o Irã, pelas montanhas do Cáucaso e por parte da atual Turquia. Mais tarde os persas, vassalos dos medos, herdaram o império e o expandiram sob o comando do rei Ciro, o Grande.

Sumérios, os inventores da História




Quem vivia ali já não podia reclamar de nada sob o risco de levar bala. Também tinha que se virar sem remédios, aparelhos médicos ou comida – um embargo econômico assolava o país havia dez anos. Em março do ano passado, para piorar, o lugar foi invadido por todos os lados, teve suas cidades destruídas e quase 15 mil pessoas mortas, além de milhares de vítimas feridas. O Iraque foi o pior lugar do mundo em 2003 e talvez em toda a última década. Mas sua história nem sempre foi assim. Na mesma terra que recebeu as bombas daisy cutters americanas (as maiores e mais poderosas bombas não atômicas, que os militares americanos chamam ironicamente de “cortadoras de margaridas”), se assentam os restos da civilização mais esplendorosa do início dos tempos. O povo que criou a escrita, as primeiras técnicas de engenharia e cujas lendas e mitos estão repetidas em várias culturas posteriores, como a babilônica e hebréia.

Foram os sumérios que cravaram um fim nos 150 mil anos de Pré-História, com a invenção da escritacuneiforme. Também inventaram o modelo de cidades, em um território que começava próximo ao centro do atual Iraque, onde hoje é Bagdá, e seguia em direção do sul até mar. Isso tudo entre 4000 a.C. e 1600 a.C, quando a Mesopotâmia, a região entre os rios Tigre e Eufrates, era marcada ora por tempestades de areia que se arrastavam por quilômetros, ora por regiões pantanosas e alagadiças. “Foi uma espécie de primeira revolução urbana da história”, diz Marcelo Rede, professor de história antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF). As primeiras populações estabelecidas na planície daMesopotâmia eram nômades ou seminômades.

“A passagem para a agricultura foi o passo fundamental para a sedentarização, e as cidades surgem como aglomerados de comunidades agrícolas”, afirma o professor. De um povo originariamente agrícola que precisava lutar contra a fúria da natureza, surgiu uma civilização urbana, com comércio desenvolvido e que primava pelos registros escritos. Sua estrutura social privilegiando o varejo gerou uma elite cercada por luxos e prestadores de serviço. As palavras dos membros dessa elite tinham tanta força que eles legitimavam seus documentos por meio de um objeto usado até hoje: os selos. Cilíndricos, eles eram cunhados em pedra e rolados em tabletes de argila.

Raízes da raiz quadrada

Como bons comerciantes, os sumérios foram bastante dedicados à matemática. Há registros de transações comerciais envolvendo crédito, empréstimo e pagamento de juros mesmo sem sistema de cunhagem de moedas. Os preços eram geralmente fixados em relação ao valor de metais como cobre e prata, trazidos de outras regiões. Os sumérios foram os precursores da tábua pitagórica, raízes quadradas e cúbicas, frações com numerador 1, pi com valor de 3, bem como do sistema sexagesimal, que originou conceitos usados até hoje, como a hora de 60 minutos e ângulo de 360 graus.

Toda essa matemática era usada para controlar as águas dos rios Tigre e Eufrates. Canais e barreiras eram construídos para controlar as cheias, o que também ajudava a facilitar a navegação e o abastecimento das cidades. Um desses canais partia da cidade de Hit e seguia paralelo ao Eufrates por quase 400 quilômetros. Ao contrário dos egípcios, que viam nas cheias do Nilo um benefício para o cultivo, os sumérios encaravam as inundações como uma maldição divina – uma delas pode ter criado a lenda bíblica do dilúvio (leia quadro na página 55). Esse medo de inundações provavelmente surgiu porque as cheias do Nilo aconteciam na época de germinação das sementes, ajudando a fertilidade do solo, enquanto na Suméria elas ocorriam sem data prevista e quase sempre perto da época da colheita. A força dos rios era usada até como tática militar: inundava-se uma cidade para dominá-la.

E nada era mais comum entre os sumérios que brigas. Guerras eram travadas não contra nações vizinhas, mas entre eles próprios. “As cidades sumérias eram sedes de reinos, cada qual com sua dinastia”, conta Rede. Independentes, os cidadãos de cada local aproveitavam para saquear o que havia de matéria-prima nas cidades vizinhas: faltava a eles um material que fosse diferente de argila. Metais e madeiras precisavam ser importados – muitas vezes eram obtidos por meio de um comércio não muito, digamos, honesto.

Por isso, um costume muito comum das cidades era o de erguer enormes muralhas de barro para proteger o núcleo urbano – os agricultores da periferia ficavam de fora dessa. As batalhas entre as cidades também acentuaram a escravidão. Viravam escravos os soldados e os moradores das cidades dominadas, bem como devedores e suas famílias e até mesmo filhos mal-educados. Para “aquietar” a rebeldia excessiva da prole, os pais podiam “alugar” seus rebentos como escravos durante um determinado período.

Mas o motivo mais importante para a guerra era religioso. Os sumérios acreditavam em uma grande quantidade de espíritos do mal ligados aos fenômenos da natureza. Tempestades de areia eram vinganças dos deuses. Inundações também. Guerras só poderiam ser movidas pelos deuses. A eles também era atribuída a nomeação do líder das cidades-estado, o lugal (“homem grande”). Mas em períodos expansionistas, com a dominação de outras cidades, havia normalmente um governador designado diretamente pelo lugal.

Rei estrangeiro

O separatismo sumério permaneceu na região até 2800 a.C., quando Etana, soberano da cidade de Kish, começou a unir diferentes núcleos sob um único comando. Ele inaugurou um período de tranqüilidade que culminou com a primeira dinastia de Ur, por volta de 2500 a.C., época conhecida por pax sumerica. Mas as cidades de Ur, Eridu e Kish nunca pararam de disputar o título de capital. Enquanto Lagash saía na frente por suas fortificações, importância econômica e por ser um canal de comunicação com o golfo Pérsico, sua maior adversária, Ur, a terra de Abraão, era temida por seu exército. Já Kish era o maior centro espiritual da Mesopotâmia: teria emergido ali o primeiro líder político e espiritual após a grande inundação dos rios Tigre e Eufrates, no século 4 a.C.

Por volta de 2430 a.C. a cidade de Umma, sob o comando de um príncipe chamado Lugalzaggheshi, conseguiu se sobrepor a Lagash e tomar Ur, Kish e Uruk, se expandindo até a região das atuais Síria e Palestina e formando um reino que contemplava também o povo acádio. Ele tomou poder em Lagash incitado pelo clero e burguesia, cansados das reformas sociais promovidas por Urukaghina, o líder de Lagash.

O monarca sumério que ficou mais famoso, porém, não veio de nenhuma dessas cidades. Em 2335 a.C., o acádio Sargão se aproveitou da fragilidade dos sumérios, gerada pelas guerras internas e por problemas na agricultura devido à salinização do solo, e tomou conta do território que se estende do Mediterrâneo ao mar da Arábia. Conhecido por ter uma alma impiedosa, ele instalou a capital em Agade, que pode ser a atual Bagdá, e organizou um exército com modernas estratégias militares. Sargão, como um Saddam Hussein, orgulhava-se de ser aquele que “não concede perdão a ninguém”.

Sua força deixou os sumérios em baixa até 2100 a.C. Pouco tempo antes, a Mesopotâmia foi invadida pelos gútios, que derrubaram Sargão, mas não conseguiram fincar raízes por ali. Foram expulsos pelo governador de Ur, Unamu, que aproveitou para conquistar boa parte das terras entre o Tigre e o Eufrates. A partir daí, os sumérios viveram um período de paz, em que a engenharia, a burocracia e as artes floresceram.

Mas nem todas as cidades se desenvolveram igualmente. Havia núcleos de pobreza e de revolta. Algumas, como Isin e Larsa, conquistaram sua independência, pois não aceitavam a pressão econômica aplicada aos agricultores. Os rebeldes crescem em número e em força e conseguem derrubar a maior parte do império, o que condena a civilização suméria – já miscigenada – ao desaparecimento na primeira metade do segundo milênio antes de Cristo. Seus costumes e religião foram adquiridos por outros povos em diversos pontos da Mesopotâmia.

É aí que está a importância dos sumérios hoje. Muito do modo sumério de pensar foi adquirido pelos hebreus e, a partir deles, foi parar na Bíblia. Um dos principais legados hebreus para a eternidade foi o pecado: a culpa era um conceito que não saía da cabeça dos sumérios. Uma mulher que morresse virgem ou de parto virava demônio. Essa noção atrapalhou até a medicina, um ponto fraco dacivilização. Muitas doenças eram vistas como punição em relação a desvios de conduta ou más ações, e diagnosticadas a partir da confissão dos pecados. “Para os sumérios, a existência humana é uma decisão divina”, afirma o estudioso da UFF. “Os homens são criados para o trabalho e têm como função primordial servir e sustentar os deuses.” Pena que, nos bombardeios às terras do sumérios ano passado, o temor a Deus legado por eles não foi levado em conta.

As primeiras letras

A disputa entre egípcios e sumérios pela invenção da escrita é antiga. Atualmente os chineses também entraram na briga, cuja vitória deve levar muitos anos de estudos até ser alcançada. Independentemente de quem foi o precursor dos registros das palavras, o que se tem certeza é das diferentes motivações. Enquanto os egípcios fizeram seus primeiros garranchos pensando principalmente em louvar os deuses, os sumérios tinham como prioridade os registros comerciais e a administração das cidades. Na Mesopotâmia, a maneira de escrever evoluiu por meio da interação entre diferentes culturas e da miscigenação entre elas. De cerca de 2 mil registros pictográficos moldados ou representados em paredes e muros em meados do quarto milênio antes de Cristo, chegou-se a 590 símbolos representando letras, sílabas ou palavras escritas na horizontal por volta de 700 a.C.

“Atribui-se comumente a invenção da escrita cuneiforme, na Mesopotâmia, aos sumérios, embora não se tenha certeza absoluta dessa afirmação”, diz Emanuel Bouzon pesquisador e professor da Universidade Católica do Rio de Janeiro. “A escrita cuneiforme foi, no início, essencialmente pictográfica e é difícil detectar a língua que se expressa, exclusivamente, por meio de pictogramas. Somente mais tarde, quando passou ao estágio de escrita silábica, foi possível determinar a língua que a usava.” Segundo o professor Bouzon, o nome cuneiforme dado à escrita mesopotâmia vem de ”cunha”, o instrumento de bambu com que se gravavam os sinais na argila ainda mole. “Os textos eram lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo.” O pesquisador explica que, antes dos registros nas tábuas de argila, eram moldados símbolos plásticos representando jarros de grãos, ovelhas, bois e até números. Essas gravações eram colocadas dentro de recipientes de argila.

Os símbolos passaram a ser grafados nos recipientes de comércio, que deram origem aos tabletes de argila usados por diversos povos da Mesopotâmia. Cada representação pictográfica correspondia a um som na língua suméria. Isso facilitou o uso dos sinais não apenas ao representar um objeto, mas como sílabas para compor palavras maiores. Estavam inventadas as letras. “Expressar-se silabicamente possibilitou, também, que o escriba sumério pudesse descrever as formas verbais, os pronomes, advérbios e outros elementos gramaticais, que não podiam ser expressos no estágio pictográfico.”

A técnica suméria, então, passou a se espalhar pelo Oriente Médio. “Os semitas que se estabeleceram na Mesopotâmia a partir de aproximadamente 2600 a.C. assumiram essa escritapara sua língua, e ela se prolongou até o século 7 a.C., no período neobabilônico. Foi durante os períodos neo-assírio e neobabilônico que a língua aramaica se tornou o veículo de comunicação e o alfabeto superou a escrita cuneiforme pela sua simplicidade”, diz Bouzon.

Caderno de caligrafia

3300 a.C.

Os sinais eram gravados em paredes de barro ou em pedras, sempre verticalmente

2800 a.C.

Os pictogramas passam a ser escritos na horizontal em tabletes de barro portáteis

2400 a.C.

Sob influência acádia, os escritos se tornam mais complexos e rebuscados

1800 a.C.

A escrita suméria é incorporada à língua dos povos semitas e seus dialetos

700 a.C.
Os registros que antes significavam palavras ou idéias agora representam sons ou fonemas: um pré-alfabeto


Cronologia
Urbanismo, astronomia e matemática

5000 até 4000 a.C.

Os sumérios começam a povoar a Mesopotâmia e inauguram o período conhecido como pré-dinástico

4000 até 3000 a.C.

Ascensão das cidades de Kish e Uruk, acompanhada pela evolução da escrita cuneiforme e da engenharia

3000 até 2600 a.C.

Enquanto as cidades de Lagash e Ur se tornam as principais, a astronomia evolui

2600 até 2000 a.C.

Sob influência dos acádios e reinado de Sargão, os sumérios criam o sistema sexagesimal, usado até hoje

2000 até 1600 a.C.
Domínio da Suméria pelos amorritas, que transferem a capital para a Babilônia


A capital perdida: Os restos de Agade,a principal cidade suméria, podem estar sob Bagdá

Ao unificar as cidades sumérias em um único império, o poderoso Sargão teria escolhido a cidadede Agade como a capital e centro do poder. Mas até hoje a cidade não consta da lista dos centros urbanos encontrados pelos arqueólogos em séculos de escavações. Uma linha de pesquisa, baseada em registros sobre a antiga capital, acredita que ela esteja soterrada sob a capital, Bagdá. “Agade é bastante citada na documentação da região, desde a antiga Lista Real Suméria até inscrições de épocas bem tardias, como da conquista persa, que apontam para a localização onde hoje está Bagdá”, diz o professor Marcelo Rede. Os vestígios, quando escondidos sob grandes cidades, segundo ele, se não achados durante obras ou escavações arqueológicas, costumam surgir em conflitos, como em Beirute, durante a guerra na década de 1970. “Mas em Bagdá a guerra danificou o patrimônio histórico do Iraque.”


Os inventores do pecado:Os sumérios podem teroriginado as histórias de Noé,Moisés, Adão e Eva

Ao ler a história do povo sumério, qualquer pessoa criada dentro de círculos cristãos terá aquela sensação de "já vi algo parecido em algum lugar”. E viu mesmo, na Bíblia. Diversas histórias encontradas no Antigo Testamento já estavam registradas em cuneiforme nas tábuas de argila sumérias. Um exemplo é a criação do homem feito de barro por Deus e a narrativa do pecado original. No Museu Britânico, há um selo com essa representação datado de meados do século 3 a.C. A figura mostra uma árvore (que seria a macieira) entre um homem, uma mulher e uma cobra, animal abundante nas áreas alagadiças e lamacentas da Suméria. O lugal Sargão também pode ter sido citado na Bíblia. Mas com outro nome: Moisés. Como o rei dos hebreus, Sargão teria sido concebido em segredo, jogado nas águas do Eufrates em um cesto quando bebê e achado por uma família. Mas as citações mais comprovadas são em relação ao dilúvio.
A lenda sobre ele pode ter se originado em uma grande cheia dos rios Tigre e Eufrates, no quarto milênio antes de Cristo. A cheia teria sido provocada por uma tempestade de proporções nunca vistas e agravada pelo avanço do mar sobre o litoral. Na época, as águas do oceano entravam no golfo Pérsico cerca de 230 quilômetros a mais que nos dias de hoje. Os contornos do litoral também foram alterados pelas tempestades de areia e pelo assoreamento da região. Além disso, foram encontrados vestígios petrificados de acúmulos de lama de 3 metros de espessura em altitudes acima do nível do mar e dos principais rios. “A Lista Real Suméria, um texto que enumera as várias dinastias desde o início dos tempos, faz menção às realezas anteriores e posteriores ao dilúvio”, diz Marcelo Rede. O relato dessa lista se assemelha ao texto bíblico. “Um deus resolve salvar a humanidade do dilúvio, escolhendo um eleito a quem dá instruções para construir um barco, onde devem ser colocados sua família, os bens e os animais.”

O casamento de padres sempre foi proibido. FALSO!



Jesus Cristo jamais proferiu algo contrário ao casamento de religiosos, e alguns de seus apóstolos tiveram esposas e filhos. O judaísmo, crença da qual se originou o cristianismo, não impunha o celibato aos rabinos. Logo, a Igreja Católica também passou um longo tempo considerando aceitável a ordenação de homens casados.


Uma das primeiras tentativas de imposição do celibato aos padres fracassou no Concílio de Niceia, no ano 325. A reunião só conseguiu proibir o casamento depois da ordenação. Ao que tudo indica, porém, nem mesmo essa cláusula foi respeitada rigorosamente, já que vários clérigos do período viviam com suas companheiras e resistiram à nova regra. No século IV, por exemplo, bispos como Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa eram casados, e 39 dos papas tiveram esposas e filhos, que chegaram, em alguns casos, a suceder os pais.



Essa situação começou a mudar com a ascensão de vários monges a cargos de importância na hierarquia eclesiástica. A multiplicação das decisões papais, concílios e sínodos de bispos em defesa da obrigatoriedade do celibato mostra que a força política desse grupo, praticante da renúncia aos prazeres mundanos, alterou bastante a estrutura de poder da Igreja.




A disputa entre opositores e defensores do celibato se acirrou no século X, quando o Império Carolíngio sucumbiu e a Igreja passou a enfrentar dificuldades para impor suas normas aos clérigos. O afastamento das questões espirituais, a prática da simonia (venda de bens sagrados e de benefícios eclesiásticos) e os casos de nicolaísmo (incontinência dos padres que se casam ou vivem em concubinato) se tornaram mais frequentes. Uma reforma era necessária.

Embora iniciada por Leão IX, foi o papa Gregório VII que emprestou seu nome à chamada “reforma gregoriana”. Esse movimento intensificou a crítica à incontinência dos religiosos e passou a valorizar um clero inteiramente voltado à sua tarefa, sem relações familiares que pudessem afastá-lo dos interesses espirituais ou levá-lo a usurpar bens da Igreja para benefício de seus parentes.

Em vários países, como Alemanha, França, Inglaterra e Espanha, essas decisões foram mal recebidas pelos clérigos locais, e o concubinato dos padres persistiu. No entanto, a população aderia cada vez mais às decisões papais e, ansiosa pela renovação de um clero corrupto e permissivo, rejeitava os religiosos que continuavam a ter uma amante ou a praticar atos condenáveis.

Assim, o desejo de um enquadramento melhor dos padres e de uma definição mais restrita de sua disciplina continuou a ganhar força. Os cânones dos concílios de Latrão II (1139), Latrão III (1179) e, finalmente, Latrão IV (1215) reiteraram a proibição ao concubinato dos padres e à ordenação de homens casados. Essas determinações têm sido rigorosamente aplicadas pela Igreja Católica até os dias atuais, a despeito do que fizeram os cristãos ortodoxos: para eles, a ordenação de homens casados continua sendo, a exemplo do que ocorria nos primeiros anos do cristianismo, uma prática perfeitamente aceitável.




O julgamento de Jesus




O prisioneiro caminha lentamente para a execução. Seu sangue escorre pelas feridas em carne viva. O fim está próximo. Em poucas horas o homem que irá mudar a história da humanidade morrerá pendurado em uma cruz. Está para começar uma das maiores polêmicas de todos os tempos. Quase 2 mil anos após a morte de Jesus de Nazaré, os detalhes sobre o julgamento que o levou à crucificação ainda são capazes de provocar debates explosivos.

Primeiro, porque os únicos relatos daqueles momentos são os textos religiosos contidos na Bíblia. “Não bastasse isso, os quatro evangelhos (os livros que contam a vida de Jesus atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João) divergem entre si em diversos pontos da narrativa. Não se conhece a seqüência dos fatos e de como ocorreram, o que contribui para que sejam suscitadas tantas polêmicas”, diz o historiador André Chevitarese, professor de história antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo, porque os evangelhos impingem grande parte da responsabilidade pela prisão e condenaçãode Jesus aos sacerdotes judeus que o julgaram em primeira instância, livrando o romano Pôncio Pilatos, a autoridade máxima na Palestina na época, de qualquer vestígio de culpa. O cristianismomoderno rebate essa versão e nega que os judeus da época de Jesus tenham sido os únicos culpados. Já os historiadores discutem se os fatos narrados na Bíblia têm base nas leis judaicas e romanas antigas, à procura de esclarecer a verdade. “Mas os cristãos fundamentalistas ainda interpretam os evangelhos de forma anti-semita”, diz o padre e teólogo Antônio Manzatto, da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. “É o que faz Mel Gibson em seu filme A Paixão de Cristo.”

As polêmicas provocadas pelo filme, que está batendo recordes de bilheteria nos Estados Unidos e estreou no Brasil sob ameaças de proibição, têm o mérito de levar ao público questões normalmente restritas aos meios acadêmicos. Afinal, quem matou Jesus? Como se deu o processo que levou à suacondenação? Qual foi a responsabilidade do povo judeu, das pessoas comuns? Para responder a essas perguntas, primeiro é preciso entender o contexto histórico em que esses fatos extraordinários teriam ocorrido.

O réu: Jesus de Nazaré

Atualmente, estuda-se cada vez mais sobre Jesus. Contudo o que a história sabe sobre ele não avançou muito nos últimos 2 mil anos. Além da Bíblia, são raríssimas as referências a Jesus. Há os chamados Evangelhos de Nag Hammadi, encontrados no Egito em 1945. São mais de 60 textos escritos em copta (idioma falado no Egito bizantino) e que faziam parte de uma coleção de textos cristãos do século 4. Esses livros revelam um Jesus místico, milagreiro, mas muito pouco somaram ao personagem histórico.

Já os chamados Manuscritos do Mar Morto, escritos em aramaico (a língua falada na Palestina na época de Jesus), entre 152 a.C. e 68, pelos essênios (uma seita judaica contemporânea de Jesus), tinham um ótimo potencial para renovar o conhecimento histórico sobre Jesus. Encontrados em 1947, em Qumram, Israel, só foram completamente decifrados em 2002 e não citam Jesus nenhuma vez.

A historiografia grega e judaica tão pródiga em personagens da Antiguidade também ignora Jesus. Restam-nos os textos romanos, escritos todos depois da morte de Jesus. Entre eles, os de Flávio Josefo, autor de Antiguidades Judaicas. Porém uma dúvida paira sobre o trecho em que cita Jesus. Josefo afirma que Jesus “fazia milagres e que “apareceu três dias depois da sua morte, de novo vivo”. Para Angelo Chaniotis, do Centro de Estudos de Documentos Antigos da Universidade de Oxford, é discutível que esse trecho seja realmente de Josefo. “Um judeu que se tornou cidadão romano não acreditaria que Jesus era o Messias.” Para ele, o trecho deve ter sido adicionado pelos monges cristãos que tiveram acesso ao texto a fim de copiá-lo, entre os séculos 6 e 11.

Se são raras as vozes da história sobre a vida de Jesus, o silêncio é ainda maior quando se procuram vestígios arqueológicos. Em 2002, anunciou-se o que seria a redenção dos que acreditam nos evangelhos: uma urna funerária com o nome de Jesus escrito. Meses depois provou-se que era uma falsificação. Até hoje não se descobriu nenhum traço arqueológico diretamente associado a Jesus.

No entanto, a arqueologia tem tido sucesso em fornecer subsídios para reconstruirmos o momento histórico no qual teria vivido Jesus. Um exemplo é o trabalho nas imediações de Nazaré. Escavações encontraram grande número de construções romanas do século 1. O fato jogou nova luz sobre aprofissão Jesus. A palavra usada na Bíblia para designar o que Jesus fazia é tekton, que tanto pode significar carpinteiro como biscateiro. “As novas descobertas mostram que a Galiléia, e em particulara região de Nazaré, era um verdadeiro canteiro de obras na época de Jesus. Praticamente todos os homens adultos estavam envolvidos com alguma atividade ligada à construção civil”, diz Gabriele Cornelli, professor de teologia e filosofia da Universidade Metodista de São Paulo. Mas como esse camponês que ajudava a erguer paredes para os romanos acabou condenado e morto alguns anos depois?

A Acusação: Blasfêmia

A Galiléia da época de Jesus vivia um período de extrema pobreza. “A região, ao norte da Judéia, sempre havia sido pobre. Mas não miserável, como durante a dominação romana”, escreveu John Dominic Crossan, professor da DePaul University, de Chicago, Estados Unidos e autor de O Jesus Histórico, a Vida de um Camponês no Mediterrâneo. Segundo ele, os camponeses tinham de pagar impostos ao Império Romano, que havia tomado Jerusalém em 63 a.C., aos sacerdotes do Templo emJerusalém, e ao rei Herodes Antipas. Isso deveria consumir pelo menos dois terços de toda a produção, segundo os cálculos de Crossan. Como resultado de tripla tributação, a população empobrecia e perdiaa esperança em tempos melhores.

Também havia uma crescente desconfiança em relação aos sacerdotes do templo. “Em várias passagens dos evangelhos, Jesus critica duramente os sacerdotes por desprezarem os pobres e darem importância excessiva ao ouro”, diz o teólogo Fernando Altemeyer, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Esse descontentamento geral explodiria na guerra dos judeus contra Roma, que durou do ano 66 ao 70. Uma das primeiras ações dos rebeldes foi invadir o templo e rasgar todas as listas de devedores, os maus pagadores de impostos, que ficavam guardadas no local. Roma acabaria vencendo, e o templo foi destruído. “Mas o fato mostra que a revolta contra a cobrança de impostos e a política da elite sacerdotal era imensa”, diz André Chevitarese.

Era o cenário propício para que líderes como Jesus fossem ouvidos. A visão mais aceita hoje em dia é que Jesus, que vinha da parte mais afastada do Império Romano, era mais um entre tantos pregadores. Essa interpretação é sustentada por estudiosos como o padre católico John P. Meier, autor de Um Judeu Marginal, Repensando o Jesus Histórico, e professor da Universidade Católica da América, em Washington, Estados Unidos. “É um fato que na época de Jesus devia haver pelo menos outras cinco ou seis pessoas que se diziam o Messias”, afirma Antônio Manzatto.

O poder local, formado por uma aliança entre a elite judaica e os romanos, via esse movimento de líderes messiânicos com desconfiança. “O discurso era revolucionário, o que poderia abalar as estruturas do poder”, diz André. O de Jesus era seguramente bombástico. Ele pregava a igualdade, o respeito aos pobres, o amor.

Mas se Jesus era apenas um dentre tantos pregadores messiânicos, tudo mudou quando ele chegou aJerusalém, pouco antes da Páscoa judaica, por volta do ano 30. Naquela época, Jerusalém triplicava de tamanho. Apesar de não ser a capital romana do território ocupado (os romanos preferiam governar de Haifa, de frente para o mar Mediterrãneo), lá ficava o Sinédrio, instituição judaica que funcionava como tribunal e poder legislativo, além do palácio de Pôncio Pilatos, a casa de Herodes Antipas, o rei e, é claro, o Templo Sagrado.

Segundo os evangelhos, Jesus já era conhecido na Galiléia por suas pregações, seus milagres e pela cura de enfermos quando chegou a Jerusalém. De acordo com as leis e tradições judaicas, isso bastava para ser considerado um blasfemo. A cura, na época, era um monopólio divino. No entanto, sua chegada a Jerusalém foi ainda mais recheada de provocações à ordem. Ao entrar na cidade a uma semana da Páscoa, sentado em um jumento, ele comparou-se ao Messias, invocando deliberadamentea profecia do livro de Zacarias sobre a sua chegada (“Aí vem o teu rei, justo e salvador, montado num burrinho”). A ofensa final, no entanto, foi invadir o templo e expulsar fariseus e saduceus. Se isso tiver ocorrido como dizem os evangelhos, ele acabava de comprar uma briga e tanto.

Os juízes: Judeus ou Romanos?

Segundo a Bíblia, Jesus estava reunido com seus seguidores no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, quando foi preso, à noite, depois de ser traído por Judas. Jesus teria sido detido pelos guardas do templo, por ordem do Sinédrio – o conselho formado pela elite judaica que controlava o santuário. Mas há controvérsias. Segundo o próprio evangelho de Mateus, a população da cidade estranhou uma patrulha àquela hora na rua. De fato, isso seria pouco comum. “Para operar além das paredes do templo, os guardas devem ter contado com o apoio de soldados romanos”, diz a historiadora Norma Musgo Mendes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Os evangelistas discordam quando relatam os fatos após a prisão de Jesus. Em comum, eles trazem aversão de que os sacerdotes do templo decidem não condená-lo à pena capital. Se fosse sentenciado àmorte pelo Sinédrio, provavelmente seria apedrejado. O prisioneiro é então enviado para a autoridade suprema local, o procurador romano na Palestina, Pôncio Pilatos, a quem cabia julgar questões de interesse do Império.

Aqui, começa outra grande polêmica sobre a narração bíblica. Não haveria nenhuma razão para Jesus não ser condenado sumariamente por Pilatos, mas os evangelhos, única fonte escrita do processo, contam que o governador teria hesitado em sentenciar Jesus e tentado libertá-lo pelo menos duas vezes. Numa, após interrogar Jesus e, tendo-o considerado inocente, resolveu soltá-lo, mas voltou atrás quando foi vaiado pelo povo que acompanhava o julgamento. Em outra, teria pedido que o povo escolhesse entre Jesus e Barrabás, um criminoso conhecido, para que ele soltasse um deles, em um perdão especial devido à Páscoa. O povo teria escolhido Barrabás para ser salvo. No fim, Pilatos teria lavado as mãos, para simbolizar sua inocência em relação ao veredicto. Segundo um dos evangelhos, o de Lucas, o governador ainda teria mandado Jesus para o rei Herodes, mas esse não aceitou julgá-lo e o enviou de volta.

Para alguns historiadores, todo o julgamento é inverossímil, distante das práticas das autoridades romanas na Palestina. “Jesus não era uma pessoa importante na época, era mais um pregador que vinha da distante Galiléia. O mais provável é que ele nem sequer tenha sido julgado, mas, em vez disso, condenado sumariamente à morte”, afirma Gabriele Cornelli. Segundo ele, a passagem do julgamento no Novo Testamento foi escrita com o propósito de orientar os primeiros cristãos a como se portar diante dos sacerdotes e dos romanos.

André Chevitarese concorda. “Os evangelhos devem ser lidos não como uma reportagem, mas como um programa teológico com fundo histórico”, diz. Ele defende que os autores dos evangelhos, que foram escritos entre 40 e 80 anos após a morte de Jesus (e, portanto, depois que os romanos destruíram Jerusalém), utilizaram a narração do julgamento de Jesus para reforçar a cisão entre cristãos e judeus. “Isso era fundamental para afirmar os preceitos da nova religião, e, ao mesmo tempo, não cutucar o Império Romano, com o qual o cristianismo teria de conviver”, afirma André.

Essa análise dos relatos explicaria porque Pilatos é retratado de modo tão brando nos quatro evangelhos. “Até a mulher dele, Cláudia, tenta influenciar o julgamento, a favor de Jesus. Tudo para construir a imagem de um Pilatos bonzinho e não o típico governante romano que estava lá para fazer valer a lei e a ordem”, diz André. No entanto, Filão, o Judeu, historiador que viveu entre 20 a.C e o ano 50 menciona a crueldade de Pilatos e seu autoritarismo em centenas de casos de julgamentos de rebeldes e escravos (aliás, Filão também não se refere a Jesus).

O teólogo Paul Winter, autor de Sobre o Processo de Jesus, aponta outras passagens conflitantes. Para ele, a cena em que o povo escolhe Jesus para morrer no lugar de Barrabás não faz sentido do ponto de vista histórico. Primeiro, havia quatro prisioneiros para serem julgados, incluindo os dois ladrões que morreram na cruz ao lado de Jesus. Nesse caso, de acordo com Winter, não faria sentido o povo escolher um entre dois prisioneiros, e não entre quatro. Em segundo lugar, o hábito de se libertar um preso na Páscoa era raro, e não um fato comum como fazem crer os textos bíblicos.

O veredicto: Cupaldo de Sedição

Outro dedo a apontar para Pilatos e os romanos, quando se procura um culpado pela morte de Jesus, é o debate sobre por qual crime, afinal, ele foi condenado. Vimos que, segundo os evangelhos, os judeus do templo de Jerusalém o acusaram de blasfêmia, mas o historiador Geza Vermes, da Universidade de Oxford, Inglaterra, duvida disso. “Casos de pessoas que se autoproclamavam messias eram comuns naquela época e não espantavam mais ninguém”, afirma. “Jesus foi levado à morte por crime de sedição, de rebeldia política contra os interesses romanos. Só isso justificaria o fato de ter sido julgado por Pilatos e condenado à crucificação.”

Para a historiadora Norma Mendes, é possível que tenha havido uma aliança entre os sacerdotes judeus e os romanos para que Jesus fosse condenado à morte. Aí faria sentido que o Sinédrio o acusasse de blasfêmia e o apresentasse a Pilatos como agitador político, para que fosse morto sem a participação direta da elite judaica.

A pena: Crucificação

“Uma vez que Jesus foi condenado por Pilatos, como aparece na Bíblia, a pena podia ser uma só: crucificação, precedida de açoitamento”, diz o historiador e arqueólogo Pedro Paulo Funari, da Universidade Estadual de Campinas, no interior de São Paulo. Essa era uma pena bastante comum nos territórios ocupados pelos romanos. No ano que Jesus nasceu, por exemplo, mais de 2 mil condenados foram mortos dessa forma. A crucificação era considerada a mais degradante e brutal pena capital. Primeiro, o condenado era violentamente espancado, chicoteado e flagelado. Depois disso, uma pesada tora de madeira era colocada sobre suas costas e seus braços presos às extremidades. Assim ele carregava sua cruz até o local onde seria erguida. O condenado podia ter o calcanhar preso com pregos à madeira, ou as mãos, se não fossem amarradas com cordas.

O teólogo Antônio Manzatto acredita que o sofrimento de Jesus descrito na Bíblia seja fiel ao que realmente ocorria em casos de crucificação. Para ele, não haveria interesse dos evengelistas de exagerar na narrativa dos sofrimentos de Jesus. “O mais importante naquele momento era ressaltar amensagem do fundador da nova religião. Jesus deve ter sofrido como todos que eram crucificados. Nem mais, nem menos”, afirma.

Segundo Pedro Paulo Funari, a morte na cruz advinha da sede e da asfixia causada pela posição em que o corpo ficava pendurado. O suplício poderia levar dias. No caso de Jesus que, segundo os evangelhos, morreu em poucas horas, isso poderia ser explicado pela perda excessiva de sangue, já que ele teve as mãos pregadas à cruz. Guardas romanos tomavam conta o tempo todo do lugar, não permitindo que dessem água ao condenado ou o tirassem da cruz. A agonia era assistida por familiares e a população em geral.

A falta de sepulturas para os milhares de crucificados daquela época levou os historiadores e arqueólogos a uma conclusão surpreendente: os corpos crucificados não eram retirados da cruz, mas deixados expostos aos elementos até serem devorados pelos abutres e cães. “É a única explicação plausível. O que teria sido feito dos restos mortais dos condenados crucificados que jamais foram encontrados?”, diz o historiador Gabriele Cornelli. Segundo ele, fazia parte da pena a humilhação pública, mesmo depois da morte.

No caso dos familiares de Jesus, é possível que tenham obtido autorização para levar seu corpo. “Os romanos concediam essas autorizações às vezes”, afirma Norma Mendes. Três dias depois que Maria recolheu os restos mortais de seu filho, tem início o maior relato de fé até então conhecido, aressureição. Está para nascer não só o Cristo (o ungido, em grego), mas uma religião que abraçaria todo o mundo ocidental a ponto de hoje, dois milênios após os fatos analisados nesta reportagem, ocristianismo ser o credo de mais de 2 bilhões de pessoas e influenciar o modo de pensar e agir de grande parte da humanidade. “Direitos humanos, amor ao próximo, perdão, são todos preceitos morais que regem a vida da maioria das pessoas, sejam elas cristãs ou não”, diz o teólogo Antônio Manzatto. “Faz todo o sentido que sua vida seja objeto de tantos estudos e polêmicas.”