A agricultura no Egito dependia da irrigação com aproveitamento e controle do fenômeno natural das cheias anuais do Nilo. Tal atividade nos é bastante conhecida, pois diversas cenas que a representam nos foram deixadas nas pinturas e relevos murais das tumbas. Os camponeses formavam a maioria absoluta da população e, portanto, a base da mão-de-obra do antigo Egito. A religião penetrava em todos os aspectos do cotidiano egípcio e na agricultura não poderia ser diferente. Todo ano os sacerdotes realizavam cerimônias que deveriam garantir a chegada da inundação. O faraó, por sua vez, agradecia solenemente a colheita abundante às divindades adequadas.
Os egípcios gostavam de comer bem, mas não nos deixaram nenhum manual de culinária entre seus papiros. Através das representações das pinturas e relevos, algumas informações puderam ser obtidas pelos egiptólogos, não apenas quanto aos alimentos consumidos, mas também quanto a sua preparação. Carne de gado ou de galináceos, peixes, legumes e frutas faziam parte das refeições daquele tempo. Os pães tinham presença marcante na mesa e entre as bebidas a cerveja era a preferida. Usando facas, colheres e garfos, ou simplesmente comendo com as mãos, os egípcios tinham uma alimentação rica e saudável.
Em suas tentativas de domesticar animais os egípcios procuraram amansar antílopes, gruas, pelicanos e até a abominável hiena. Entretanto, antes do período histórico os habitantes do vale do Nilo já sabiam domesticar animais como o boi, o carneiro, a cabra e o cão. Este último auxiliava na caça e na guarda dos rebanhos. No período histórico, asnos, porcos, gansos e patos também eram domesticados e os animais pertenciam sobretudo aos templos. As galinhas, porém, eram deconhecidas, o camelo só era conhecido dos habitantes do Delta Oriental e o cavalo só foi introduzido no Egito com a chegada dos Hicsos, por volta de 1640 a.C.
Os antigos egípcios não encaravam a arte pela própria arte. Todos – fossem eles arquitetos, escultores ou pintores – consideravam-se funcionários ou artesãos que produziam artefatos destinados a alguma função: religiosa, funerária ou de qualquer outro tipo. Toda a arte existente girava em torno dos deuses, do faraó e de sua corte. Quanto aos ofícios, havia oficinas de todas as espécies por toda parte. Os artífices trabalhavam o barro, a pedra, a madeira e os metais. Era obrigação do artista conhecer todos os atributos reais e divinos, bem como a mitologia e a liturgia, o que certamente não era tarefa fácil.
O casamento entre os egípcios não dependia da lei. Bastava a concordância do casal envolvido. Na realidade eram firmados contratos entre as partes para garantir sobretudo a situação da mulher nos casos de divórcio, mas não havia leis que impussessem o estabelecimento do contrato em si mesmo. –Eu te faço minha mulher., dizia o noivo. A noiva respondia: –Fizeste-me tua mulher.Com essa forma consagrada pelo uso ficava selada a união. Apesar de toda a religiosidade do povo egípcio, nada existia de parecido a uma benção nupcial no templo. Com o necessário consentimento do pai da noiva, o que selava a união era a coabitação: a moça saía da casa dos pais e ia viver na do marido.
As casas e palácios do Egito antigo eram construídas de tijolo e, ao contrário dos templos que eram construídos em pedra, não resistiram ao passar dos séculos. Apenas duas cidades foram razoavelmente preservadas: Hetep-Sanusrit e Akhetaton. Ambas surgiram de forma planejada por ordem dos faraós, mas tiveram curta existência e foram abandonadas bruscamente. A primeira não chegou a durar um século e a outra se manteve apenas por um período um pouco maior do que o reinado de Akhenaton. De qualquer maneira, permitiram que os arqueólogos estudassem detalhes da vida cotidiana na zona urbana.
O povo egípcio era prático por excelência. Assim, toda a sua ciência era empírica e voltada para a solução dos problemas do dia-a-dia. A matemática, por exemplo, procurava encontrar soluções para a medição das terras ou para o traçado dos planos das pirâmides e templos. A medicina, que teve como patrono o sábio Imhotep, foi uma das ciências que se desenvolveu bastante, principalmente em função do tratamento que era dado aos cadáveres para preservá-los intactos. A religião, como em diversos outros setores da vida egípcia, também sempre interferiu e contaminou os aspectos científicos com a magia. Os conhecimentos científicos concentravam-se nas mãos de poucos: cortesãos, sacerdotes, funcionários e escribas.
A ternura pela criança é um traço constante e encantador da civilização egípcia ao longo de toda a sua história. A arte egípcia sempre usou como tema a infância e todo o mundo que a envolve. Também não faltam textos evocando as alegrias desse período da vida e outros lembrando que a missão dos pais traz mais satisfações do que dissabores. Os filhos eram altamente desejados pelos egípcios até porque, práticos como eram, viam neles o instrumento da preservação dos ritos do culto funerário, que eram indispensáveis para a continuidade da vida após a morte. Assim, o desejo de ter filhos, principalmente um varão, era geral e resultava em famílias numerosas.
A escola faz geralmente parte do templo. Os estudos começavam cedo. Sabe-se de personalidades que foram enviadas para a escola com apenas cinco anos de idade. Essa, porém, não era a regra geral. Contudo, quando os rapazes deixavam de andar completamente nus já estava próximo o dia em que tomariam o caminho da escola. Aqueles que seguiriam a carreira militar eram tirados muito cedo do convívio dos pais, mas o regime das escolas era geralmente o externato. O estudante levava num cesto um pouco de pão e uma bilha de cerveja que a mãe lhe preparava todas as manhas. Nas suas idas e vindas para a escola brigavam e brincavam com seus companheiros como o fazem as crianças de hoje.
Os egípcios enterravam seus mortos na banda ocidental do rio Nilo, pois lá — acreditava-se — o sol iniciava sua jornada noturna através do mundo dos mortos. Assim, no deserto ocidental instalaram-se imensas necrópoles, nas quais as pirâmides, os templos mortuários e os túmulos abertos em plena rocha eram edificados e mantidos por aqueles com posses suficientes para arcar com os altos custos destes empreendimentos. Parentes, amigos e um enorme contingente de carpideiras levavam o morto até sua última morada, por terra e atravessando o rio em barcas, e o cortejo terminava com cerimônias que podiam incluir até mesmo um banquete funerário.
No antigo Egito já eram praticados muitos dos esportes atuais. Assim acontecia com o boxe, levantamento de peso, natação e, é claro, caça e pesca. As mulheres também se dedicavam às práticas esportivas em igualdade com os homens, excetuando-se as artes marciais. Os faraós fixavam as regras básicas das competições e os perdedores também eram aplaudidos por seu espírito esportivo, aceitando a derrota com galhardia. A ética nos esportes começa a vigorar e a importância do atletismo para o aperfeiçoamento do corpo e a proteção da saúde já é percebida. Os faraós exaltam sempre seus extraordinários feitos atléticos, embora deva ser considerado que a realidade histórica pode ter sido outra e a narrativa possa ser um mero texto de propaganda.
Tumbas e templos construídos em pedra para toda a eternidade, mas casas de tijolo para durar apenas uma vida. Essa parece ser a filosofia de construção dos antigos egípcios. Para as residências dos homens procurava-se empregar os materiais mais facilmente disponíveis, principalmente tijolos crus. Até mesmo os palácios reais eram construídos desta forma. Tais materiais não resistiram ao tempo e casas particulares e palácios foram arruinados quase que totalmente. Apesar disso os arqueólogos conseguiram obter algumas indicações precisas de como se vivia no interior das residências. Uma casa confortável e acolhedora era o objetivo da maioria dos indivíduos. Para os mais abastados, a opulência também era uma meta a ser alcançada.
Sendo um povo muito asseado, os antigos egípcios cuidavam bastante de sua higiene pessoal e de suas vestimentas. Lavavam-se várias vezes ao dia, seja logo quando se levantavam pela manhã, seja antes e após as principais refeições. Limpar as unhas dos pés, lavar a boca e cuidar dos cabelos, também faziam parte das ocupações cotidianas com o corpo. A maquiagem ocupava uma parte considerável de tais ocupações, tanto para as mulheres quanto para os homens. Os cosméticos, os ornatos para a cabeça e os adereços tinham papel marcante na aparência da mulher egípcia. Todos se vestiam, geralmente, com roupas de linho que se apresentavam sempre limpas e em perfeito estado de conservação.
Como ninguém é de ferro, os antigos egípcios também tinham seus momentos de lazer. Eles não queriam passar o dia todo carregando cevada e trigo. Inventaram, então, alguns jogos de tabuleiro bem interessantes. Mas tinham ainda jogos agitados, muitos com conotações religiosas e funções mágicas. Até inimigos podiam resolver pendências jogando. Por sua vez, as crianças se divertiam como se divertem as de hoje em dia: usando a imaginação e correndo, saltando, lutando e lançando mão de brinquedos. Estes podiam ser primitivos, às vezes confeccionados pelas próprias crianças, ou mais elaborados, se alguém os fabricasse para elas.
Logo após o casamento a jovem egípcia passava a exercer as suas funções de dona-de-casa e era importante que concebesse filhos o mais rapidamente possível. Assim, ela esperava com impaciência os primeiros sintomas de gravidez, pois seria uma calamidade se fosse estéril e tivesse que apelar para procedimentos de magia. Antes disso, porém, consultaria o médico que ela esperava pudesse lhe ministrar drogas para contornar o problema. Durante a gravidez a jovem invocava todo tipo de proteção aos deuses e coletâneas de encantamentos mágicos foram redigidos para proteção da mãe e do recém-nascido.
Um dos aspectos mais fascinantes da antiga cultura egípcia é a religião. Animais divinizados, túmulos repletos de bens, corpos mumificados, tudo isso fazia parte do cotidiano dos egípcios. O faraó era o sumo-sacerdote de todos os deuses e, concomitantemente, ele mesmo era um deus. Delegava a pessoas confiáveis a realização dos rituais dos cultos das diversas divindades. Essa era a religião oficial. O povo, por sua vez, tinha seus deuses preferidos, seus protetores domésticos, consultava oráculos e escrevia para seus parentes mortos.