1 - Champanhe amaldiçoada
Nos batizados de navios, se a garrafa de champanhe batida contra o casco
não quebra de primeira, é um sinal de mau agouro. Isso teria ocorrido com o
Titanic. Não procede. A White Star, dona do navio, não costumava realizar a
cerimônia.
2 - Concerto embaixo d`água?
Uma das histórias mais comuns sobre o Titanic fala sobre a bravura e
resignação dos músicos. Eles teriam tentado serenar os ânimos tocando valsas e
mesmo um hino gospel durante o naufrágio. Jornais americanos e britânicos, com
base em depoimento de passageiros e rumores, falavam até em acordes soando
quando os músicos tinham água pela cintura. Historiadores como Richard Howells,
autor de O Mito do Titanic, apontam para impossibilidades físicas óbvias, como
o fato de o navio estar adernando e prestes a se partir. Mas o fato de nenhum
dos 13 músicos a bordo do Titanic ter sobrevivido deu carga dramática especial
à história. O enterro do maestro Wallace Hartley reuniu 40 mil pessoas. O corpo
de Hartley teria sido resgatado com o estojo do violino a tiracolo. Justiça
seja feita, só ter tentado tocar já poderia ser considerado um feito
heroico.
3 - Smith x Schettino
Diferentemente de Francesco Schettino, o infame capitão cuja pressa em
abandonar o navio Costa Concordia deu fama à expressão vada a bordo..., os
oficiais do Titanic não tiveram a honradez questionada. O comandante, Edward
John Smith afundou com o navio. Smith, porém, pode ser comparado a Schettino no
que diz respeito à habilidade no timão. O inquérito do naufrágio concluiu que o
capitão foi imprudente ao não diminuir a velocidade depois de receber
informações sobre a presença de icebergs na rota e ao permitir que os botes
saíssem parcialmente ocupados, o que teria contribuído para a morte de pelo
menos 500 pessoas, um terço das vítimas da tragédia.
4 - Ismay, o crápula
O Titanic não violou a lei ao zarpar com apenas 20 botes salva-vidas -
suficientes para 30% do total de passageiros e tripulantes. A legislação
britânica tinha como parâmetro navios de 10 mil toneladas, 5 vezes menores que
o Titanic. O projetista do navio, Thomas Andrews, previu 64 botes. Seus planos
foram vetados por J. Bruce Ismay, diretor da White Star, por causa dos custos e
da estética: botes extras teriam de ser alojados no convés da 1ª classe. Ismay
também teria ignorado a regra de preferência para mulheres e crianças ao se
alojar num dos botes. Passou o resto da vida como pária e viajava incógnito em
trens e navios.
5 - O navio que não afunda
A história do navio inafundável surgiu em
publicações especializadas da indústria naval, depois de executivos da White
Star terem ressaltado a preocupação com a segurança de cargas e passageiros na
concepção do projeto.
6 - Drama para as câmeras
Dorothy Gibson, assim como vários outros sobreviventes do Titanic,
relatou o horror do naufrágio. Porém precisaria revisitar seus fantasmas pouco
tempo depois de pisar terra firme. Ela estrelou Salva do Titanic, filme lançado
apenas um mês após a tragédia e uma produção que mexeu com a sanidade da atriz
- nas filmagens, usou a mesma camisola que trajava quando embarcou num dos
botes salva-vidas. Salva do Titanic, por sinal, nem de longe foi uma tentativa
isolada de lucrar com o naufrágio. Mais de 100 produções cinematográficas ou
televisivas sobre os acontecimentos da noite gelada de 15 de abril foram
realizadas, incluindo a dirigida por James Cameron, o mais lucrativo filme da
história. A arrecadação de US$ 1,8 bilhão aumentará este ano com a chegada da
versão em 3D.
7 - Titanic, a palavra
Titanic é a terceira palavra na língua inglesa mais reconhecida ao redor
do mundo, atrás apenas de Deus (God) e Coca-Cola.
8 - Cofre cheio
Rumores de que os cofres do Titanic estavam cheios de ouro, joias e
dinheiro alimentou a ambição de muitos caçadores de recompensas - afinal,
diversos membros da alta sociedade europeia e americana estavam na 1ª classe.
No entanto, em 1987, o cofre foi resgatado e aberto diante das câmeras de uma
equipe de TV americana: nele havia um único bracelete de diamantes. Só.
9 - Os que escaparam
Assim como na final da Copa do Mundo de 1950, em que o Maracanã teria de
ser várias vezes maior para abrigar todas as pessoas que alegam ter assistido à
vitoria do Uruguai sobre o Brasil, é bem possível que o Titanic precisasse de
mais espaço para os que supostamente perderam a viagem. Há casos verídicos,
como o do italiano Guglielmo Marconi, dono das patentes do telégrafo e do
rádio, que recebeu a oferta de bilhetes porque sua empresa prestava serviços à
White Star. Ele viajou para Nova York 3 dias antes no Lusitania, que em 1915
seria afundado por um submarino alemão.
10 - Pressa do capitão
Os depoimentos dos sobreviventes não podem ser considerados ao pé da
letra se levado em conta o estresse e a confusão. Adicione à mistura o afã da
imprensa dos dois lados do Atlântico e está pronto um bolo de informações em que
a licença poética não raramente ofuscou fatos. Exemplo? A pressa do capitão: a
versão de que a negligência do comandante do Titanic foi alimentada pelo desejo
de estabelecer um novo recorde para a travessia do Atlântico durante anos foi
veiculada como uma das razões pelas quais o navio trafegava em alta velocidade
numa zona cheia de icebergs. Mas o inquérito que investigou o desastre concluiu
que o Titanic seguia a 22 nós no momento do choque, pelo menos 2 nós abaixo de
sua velocidade máxima. E o navio não era uma embarcação construída para ser
veloz - seu sistema de propulsão o fazia mais lento do que vários
transatlânticos da época.
11 - Tiro fictício
Na versão de James Cameron para o desastre, o imediato do Titanic,
William Murdoch, mata a tiros um passageiro da 3ª classe que tentava escapar.
Embora alguns tripulantes mais graduados tivessem recebido armas como uma forma
de garantir a segurança e controlar as multidões em caso de pânico,
historiadores que estudaram o naufrágio geralmente concordam que o episódio
jamais ocorreu. E o fato de a produtora Fox ter pedido desculpas oficialmente à
família de Murdoch é um sinal evidente do exagero.
12 - Suicídios
Dez sobreviventes cometeram suicídio, incluindo Frederick Fleet, o vigia
que estava de plantão na noite em que o Titanic bateu no iceberg e que alertou
o capitão sobre o ocorrido. Outro caso célebre foi o de Annie Robinson,
tripulante que havia sobrevivido a um naufrágio anterior, também envolvendo uma
colisão com um iceberg. Ela se atirou de um navio prestes a atracar no porto de
Boston - o som da buzina de alerta para nevoeiro teria despertado memórias da
noite gelada no Atlântico Norte.
13 - Travestis oportunista:
A história de que homens
teriam se disfarçado de mulher para conseguir vaga nos botes salva-vidas
esbarra no fato de que muitos barcos foram ao mar sem lotação esgotada, algo
que historiadores explicam ter sido motivado também pela relutância de muitos
passageiros em deixar o navio.
14 - Centenário lucrativo
Entre as muitas celebrações do centenário, há um cruzeiro memorial, que
recriará a rota que deveria ser cumprida pelo Titanic, e que incluirá missa
campal nas coordenadas do naufrágio - todas as passagens foram vendidas. Bolsos
mais profundos garantem um passeio privilegiado: uma viagem de minissubmarino
aos destroços do Titanic, que repousam a quase 4 mil metros de profundidade. O
preço da passagem? US$ 60 mil.